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Com corrida contra tarifas, PIB dos EUA avança 3% e supera projeções

Resultado animou Trump, que voltou a pressionar o Fed por corte imediato na taxa de juros

Donald Trump (Foto: REUTERS/Nathan Howard)

247 - O crescimento da economia dos Estados Unidos acelerou no segundo trimestre de 2025, conforme divulgado pelo Departamento do Comércio nesta quarta-feira (30). A maior economia do planeta avançou 3% em termos anualizados entre abril e junho, superando as projeções de analistas que estimavam uma alta de 2,5%, segundo levantamento do portal Briefing.com. O desempenho, no entanto, foi impulsionado por fatores considerados temporários e distorcidos por especialistas.

Ainda nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, anunciará sua decisão sobre as taxas de juros, em meio à pressão crescente do presidente Donald Trump por uma política monetária mais expansionista. “Devem baixar a taxa agora”, afirmou Trump em tom incisivo, mirando o presidente do Fed, Jerome Powell.

Crescimento artificial

Apesar do avanço no Produto Interno Bruto (PIB), economistas alertam que a aceleração observada é insustentável. O próprio Departamento do Comércio apontou que a alta foi puxada, principalmente, por uma redução nas importações — fator que, por ser subtraído do cálculo do PIB, artificialmente amplia o resultado — além de um crescimento nos gastos dos consumidores.

Outro componente que distorce os dados foi o aumento dos estoques por parte das empresas no início do ano. Buscando se proteger das tarifas anunciadas pelo governo Trump, muitas companhias reforçaram seus armazéns. Com os estoques agora em queda, esse impulso tende a perder força nos próximos trimestres.

Kathy Bostjancic, economista-chefe da Nationwide, comentou à AFP que “está muito distorcido pelos fluxos comerciais e pelo inventário”, e acrescentou: “a aceleração não é sustentável”.

Tarifas e tensões globais

Desde sua volta ao cargo, Trump vem adotando uma política agressiva de tarifas comerciais. Seu governo impôs aumentos sobre produtos como aço, alumínio e automóveis, além de taxações sobre quase todos os parceiros comerciais dos EUA. O presidente também tem usado tarifas como instrumento político, como nos casos das sanções contra Canadá e México, ligadas à imigração irregular e ao combate ao tráfico de fentanil.

A tensão mais significativa se dá com a China. Washington e Pequim trocaram rodadas de tarifas que chegaram a patamares de três dígitos. Embora uma trégua provisória tenha sido estabelecida e prorrogada nesta semana durante encontros em Estocolmo, a continuidade desse armistício depende diretamente de Trump, cuja postura agressiva permanece como um fator de instabilidade no comércio global.

Riscos à frente

Especialistas alertam que a conjuntura econômica americana está longe de ser estável. “A economia americana continua navegando por um conjunto complexo de contracorrentes, o que dificulta uma leitura clara de seu impulso subjacente”, declarou Gregory Daco, economista-chefe da EY. Para ele, mesmo com o crescimento recente, “a atividade econômica está desacelerando mesmo com o ressurgimento das pressões inflacionárias”.

Daco também aponta fatores estruturais que podem conter o avanço da economia no curto prazo: “A pressão dos custos aumentados pelas tarifas, a incerteza política, a rígida restrição à imigração e as altas taxas de juros estão freando o emprego, o investimento empresarial e o consumo das famílias”.

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