Caso Ambipar: a operação que coloca sob suspeita o Deutsche Bank e o ex-diretor financeiro da empresa
Maior emissão privada de green bonds do Brasil se transformou em crise após cláusula de alto risco em contrato com banco alemão e renúncia de João Arruda
247 – A Ambipar ganhou notoriedade no mercado internacional de dívida em fevereiro de 2024, quando realizou a maior emissão privada de green bonds da história do Brasil: US$ 750 milhões, com vencimento em 2031. A operação, celebrada como marco de sustentabilidade financeira, contou com a recomendação de João Arruda, então diretor do Bank of America.
Segundo reportagem do PlatôBR, Arruda sugeriu que a companhia contratasse um derivativo de swap cambial, protegendo 100% da emissão contra oscilações do dólar. Assim, a dívida originalmente em moeda estrangeira foi convertida para reais, acrescida de taxas, tornando-se mais previsível frente ao fluxo de caixa da empresa
A segunda emissão e a reestruturação da dívida
No ano seguinte, em fevereiro de 2025, a Ambipar voltou ao mercado com uma nova emissão de US$ 493 milhões, com vencimento em 2033. Parte do montante — cerca de US$ 200 milhões — foi destinada ao pré-pagamento da primeira emissão. Dessa forma, a companhia passou a carregar duas dívidas relevantes: US$ 550 milhões com vencimento em 2031 e US$ 493 milhões com vencimento em 2033
Nesse período, João Arruda, já como CFO da Ambipar, transferiu o swap da primeira emissão do Bank of America para o Deutsche Bank e contratou um novo swap para a segunda operação.
O aditivo com o Deutsche Bank e o gatilho da crise
O ponto crítico veio em 18 de agosto de 2025, quando a Ambipar assinou um aditivo com o Deutsche Bank, alterando as condições de garantia da operação de 2031. A nova estrutura, conhecida como PIK (Payment-in-Kind), vinculava o derivativo ao desempenho dos bonds no mercado secundário.
Na prática, o contrato exigia que a empresa depositasse garantias adicionais imediatas sempre que houvesse queda no preço dos títulos. O que deveria funcionar como proteção acabou se transformando em um mecanismo que amplificou os riscos, drenando o caixa da companhia e acentuando a desvalorização de seus ativos

A saída do CFO e a espiral de desconfiança
O cenário se agravou em 19 de setembro de 2025, quando João Arruda pediu renúncia ao cargo de CFO. Sua saída levou ao cancelamento de reuniões com investidores, programadas por ele próprio, aumentando a percepção de descontrole e má gestão.
O impacto foi imediato: os bonds internacionais, as debêntures locais e as ações da Ambipar negociadas tanto na B3 quanto na Bolsa de Nova York sofreram forte desvalorização. A combinação de quedas de cotações com chamadas de margem automáticas colocou a empresa em uma espiral negativa, que ameaça sua liquidez e pode culminar em pedido de recuperação judicial dentro de 30 a 60 dias
O caso sob suspeita
O episódio levanta questionamentos sobre a conduta do Deutsche Bank na negociação e sobre as decisões tomadas por João Arruda, que, de conselheiro do Bank of America, tornou-se CFO da Ambipar e conduziu as operações de alto risco que agora comprometem a sobrevivência da empresa.
O Caso Ambipar expõe não apenas os riscos financeiros de estruturas complexas no mercado de dívida, mas também coloca sob suspeita práticas que envolvem conflitos de interesse e cláusulas que podem transformar proteção em armadilha.