Brasil busca diversificar parcerias comerciais frente à guerra tarifária de Donald Trump
Mercosul avança em negociações com Canadá, Emirados Árabes e União Europeia para compensar perdas com EUA
247 - Em meio à guerra tarifária iniciada pelo governo de Donald Trump, o Brasil intensifica seus esforços para diversificar seus parceiros comerciais e compensar a possível redução de seu espaço no mercado dos Estados Unidos. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está focado em fortalecer acordos já existentes e reativar negociações anteriores com outros países e blocos econômicos.
Uma das iniciativas mais próximas de concretização, segundo a Folha de S. Paulo, é o relançamento das negociações do acordo comercial entre o Mercosul e o Canadá. O anúncio oficial deve ocorrer até o final de agosto, durante a visita do ministro canadense de Comércio Internacional, Maninder Sidhu, a Brasília. No entanto, o cronograma ainda depende da aprovação de todos os membros do Mercosul — Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia — e de uma definição sobre quando as equipes negociadoras poderão retomar as discussões, que estão paralisadas há cerca de quatro anos.
A expectativa é de que uma nova rodada de conversações aconteça ainda no segundo semestre, aproveitando a presidência rotativa do Brasil no Mercosul. As negociações entre as duas partes estavam suspensas desde 2021, com vários fatores, como a pandemia de Covid-19 e os conflitos ideológicos entre as administrações anteriores, de Jair Bolsonaro e Justin Trudeau, contribuindo para a perda de interesse mútuo.
Com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, tanto o Canadá quanto o Brasil passaram a perceber a necessidade de diversificar seus fornecedores e reduzir barreiras comerciais, principalmente em razão da dependência de seus mercados. Para o Canadá, que destina mais de 70% de suas exportações aos Estados Unidos, esse reposicionamento é urgente.
Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), destaca que a visita do ministro canadense representa uma oportunidade para avançar em temas cruciais, como segurança alimentar, acesso a mercados e investimentos sustentáveis. “O Canadá compartilha com o Mercosul princípios como sustentabilidade, comércio justo e valorização do multilateralismo. Há espaço político e econômico para avançarmos nessa agenda”, disse.
Gustavo Ribeiro, gerente de inteligência de mercado da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), acredita que o Canadá é um mercado promissor para o Brasil, dada a similaridade nos padrões de consumo com os Estados Unidos. Além disso, ele vê grande potencial de alinhamento no setor de energia limpa, o que pode abrir portas para novas oportunidades de exportação e investimentos. “É uma alternativa interessante para alguns produtos, para a densidade de cadeia e para investimentos também. É um parceiro importante para a transição energética”, afirmou Ribeiro.
Ainda conforme a reportagem, o acordo Mercosul-Canadá é particularmente importante para o Brasil, pois pode ampliar a importação de adubo canadense, um produto essencial para a agricultura brasileira. Além disso, o temor de sanções comerciais de Trump a países que compram produtos russos, como aconteceu com a Índia, pode tornar o Canadá um parceiro ainda mais estratégico.
O governo brasileiro estima que o impacto do acordo sobre o PIB seria de R$ 4,14 bilhões até 2041, além de uma projeção de aumento de R$ 1,39 bilhão em investimentos. O acordo também deve gerar um efeito positivo de R$ 3,77 bilhões nas importações e R$ 3,89 bilhões nas exportações brasileiras.
Porém, dado o complexo cenário das negociações, estima-se que um prazo de mais de um ano seja necessário para concluir as tratativas. Membros do governo brasileiro afirmam que, diante da urgência de reposicionamento no comércio global, é essencial acelerar o processo. Em busca dessa diversificação, o governo de Lula também mira uma aproximação com o México, um país que enfrenta tarifas de 30% impostas pelos Estados Unidos.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, deverá visitar o México no final de agosto, acompanhado de uma delegação de empresários. A agenda inclui discussões sobre temas como sustentabilidade, inovação e investimentos, além de reforçar a integração econômica e produtiva entre os dois países.
Outro acordo importante que o Brasil busca concluir ainda este ano é com os Emirados Árabes Unidos. As negociações com esse país, que começaram formalmente em julho do ano passado, já estão em fase avançada. O objetivo é reduzir tarifas alfandegárias e outras barreiras comerciais, além de facilitar o fluxo de investimentos e serviços.
Além de abrir novas oportunidades para a exportação de alimentos, máquinas e equipamentos, o acordo com os Emirados também pode atrair investimentos em setores como infraestrutura, energia e inovação. A secretária de Comércio Exterior do Mdic, Tatiana Prazeres, afirma que o principal desafio é harmonizar os marcos regulatórios, equilibrando os interesses dos países em termos de acesso a mercados e questões sensíveis de cada setor.
O Brasil também vê o Oriente Médio como um mercado promissor para seus produtos, como materiais de construção, carnes e castanhas. O governo estima que o acordo com os Emirados Árabes possa gerar R$ 2,69 bilhões no PIB e atrair R$ 660 milhões em investimentos até 2044.
Em outra frente, o acordo Mercosul-Efta (Associação Europeia de Livre Comércio), já fechado em julho, deve trazer benefícios ao Brasil, como acesso preferencial aos mercados da Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. Produtos brasileiros com apelo de sustentabilidade e itens mais sofisticados podem ter boa aceitação nesses países com alto poder aquisitivo.
A expectativa em torno do acordo Mercosul-União Europeia também aumentou, com o novo contexto geopolítico e a insatisfação de líderes europeus com as políticas comerciais dos Estados Unidos. Thierry Besse, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil em São Paulo, acredita que a ratificação do tratado é urgente. “O que mais falta acontecer no mundo para nos convencermos de que esse acordo é importante e urgente?”, questiona Besse.
O principal benefício do acordo, segundo ele, será a integração das cadeias produtivas dos dois blocos econômicos a longo prazo, o que pode gerar um impacto significativo para as economias sul-americana e europeia.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: