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      Armínio Fraga: tarifaço dos EUA contra o Brasil foi fruto de um 'canal político explícito'

      Ex-presidente do BC diz que decisão dos EUA tem motivação política e fere a democracia brasileira

      Arminio Fraga (Foto: World Economic Forum/Benedikt von Loebell)
      Paulo Emilio avatar
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      247 - O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, avaliou que a taxação de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros, ainda que com uma lista de exceções, representa um ataque de viés político à democracia nacional. “O Brasil entrou nessa história por um canal diferente, claramente um canal político explícito”, afirmou Fraga em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

      Segundo Fraga, a medida é uma interferência externa inaceitável nos assuntos internos do Brasil. “Eu sou brasileiro; o que eles têm que se envolver no funcionamento da nossa democracia? Ela é imperfeita, como todas, mas funciona”, pontuou. Para ele, a retaliação econômica americana escancara o desconforto do governo Trump com decisões do Supremo Tribunal Federal e de outras instituições do país, mas não surtirá efeito: “Na área política, ele não vai ter os seus desejos atendidos de jeito nenhum”.

      Embora a lista de exceções à tarifa de 50% tenha evitado consequências imediatas mais drásticas, Fraga considera que o impacto econômico ainda é expressivo. “Está todo mundo respirando um pouco aliviado, mas ainda é um problema muito grande”, avaliou.

      O economista destacou que o momento internacional — marcado por turbulências como pandemia, guerra na Ucrânia e movimentos protecionistas — tem sido agravado por iniciativas como a do presidente americano. “Chega o Trump e joga essa bomba protecionista, com ideias ainda não muito claras”, criticou.

      A principal preocupação de Fraga, no entanto, está no aspecto político da decisão de Trump. Para ele, a aplicação da Lei Magnitsky — usada pelo governo americano para justificar as sanções — em circunstâncias como as atuais configura um precedente perigoso. “Você pode discordar ou não do que está acontecendo no Supremo brasileiro, na atuação do ministro Alexandre de Moraes, mas isso é um problema nosso. Eu temo por um Supremo excessivamente ativista, mas o debate é nosso”, disse.

      Na entrevista, Fraga Fraga defendeu que o Brasil aproveite a crise para enfrentar velhas barreiras comerciais que inibem o crescimento. Para ele, o momento pode ser transformado em oportunidade: “A gente deve fazer desse limão uma limonada. Sentar, acalmar as coisas e aproveitar a oportunidade para fazer algo que nos deixe um País menos protecionista”.

      Citando estudo do Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), coordenado por Daniel Gleizer, Fraga voltou a defender a abertura comercial unilateral do Brasil. Ele também elogiou o avanço de soluções como o Pix, que considera uma inovação com potencial global. “Acho que o Pix é uma ameaça modernizadora maravilhosa. Os próprios americanos, em algum momento, vão dizer: eu também quero”.

      Sobre a atuação do governo brasileiro, o ex-presidente do BC afirmou que é preciso paciência para negociar, mas criticou a condução da política externa sob a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A política externa do Brasil também tem sido um pouco exótica, e não é de hoje. E a do PT, sobretudo — com uma afinidade surpreendente a ditadores de inúmeros países. Eu acho que o nosso caminho é outro. O caminho bom, mais natural para nós, é o caminho mais ocidental”.

      Fraga reconhece que há áreas em que as demandas de Trump coincidem com propostas que ele mesmo defende. “Curiosamente, alguns dos desejos [de Trump] eu sinceramente compartilho, porque acho que o Brasil é uma economia muito fechada. Então, se isso for algo que leve a uma abertura racional do País [...] vai ser bom para nós”.

      Questionado sobre o impacto do tarifaço na economia brasileira, Fraga respondeu que ainda é cedo para se ter uma dimensão precisa. “A parte econômica está sendo processada, muita gente fazendo conta”. Para ele, o efeito direto sobre a inflação não está claro, podendo depender de variações no câmbio. “O resto eu acho que talvez não seja tão relevante”, completou.

      Apesar das incertezas, ele alerta para o risco de desaceleração econômica interna: “A economia tende a se desacelerar um pouco agora, por razões cíclicas internas”. Entre os fatores, destaca os juros elevados e a sobrecarga do Banco Central diante de um quadro fiscal frágil. Sobre medidas emergenciais para proteger setores atingidos pela tarifação, o economista preferiu adotar cautela.“Ainda é cedo para dizer”, destacou. 

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