André Esteves diz que Brasil pode ser vencedor em um mundo menos multilateral
Presidente do BTG Pactual destacou o papel do país na transição energética e defendeu reformas para aumentar a produtividade
247 – Falando no Global Investors’ Symposium São Paulo 2025, organizado pelo Instituto Milken, o banqueiro André Esteves, sócio sênior e presidente do BTG Pactual, afirmou que o Brasil possui uma “combinação rara” de estabilidade institucional, energia limpa e relevância diplomática. A notícia foi publicada pelo Brazil Stock Guide.
“Se jogarmos bem, o Brasil pode ser um vencedor neste mundo menos multilateral”, declarou Esteves, ao analisar o cenário econômico global e as transformações nos fluxos de capitais.
Fim do “excepcionalismo americano” e nova configuração global
O banqueiro avaliou que os mercados estão sendo reconfigurados após o fim do chamado ‘excepcionalismo americano’, período em que os Estados Unidos atraíram investimentos por causa da liquidez, inovação e políticas pró-mercado. “Agora enfrentam maior volatilidade e concentração”, observou.
Segundo Esteves, esse novo contexto beneficia as economias emergentes. “As ações de mercados emergentes estão superando a economia real dos EUA”, disse.
O ciclo econômico da inteligência artificial
Ele destacou também a nova onda de investimentos em inteligência artificial, estimada em US$ 350 bilhões em 2025, como motor de um novo ciclo global.
“Estamos vivendo um ‘Covid por ano’ em termos de volume de investimento”, comparou, referindo-se ao enorme gasto das grandes empresas de tecnologia.
Para ele, os ganhos de produtividade serão rápidos e amplos: “O Brasil terá a mesma chance de capturar eficiência que os EUA, a França ou a China.”
Energia limpa e papel estratégico do Brasil
Esteves afirmou que o Brasil deve apostar em suas vantagens estruturais, como a matriz energética 85% renovável e a capacidade de se tornar um polo digital e energético.
“Não faz sentido tentar construir fábricas de chips aqui. Nossa vantagem é energia barata, limpa e uma rede sofisticada”, disse.
Ele elogiou a política de isenção tarifária para data centers, que considera um passo para tornar o país competitivo frente a regiões como Virgínia, Texas ou Europa.
Na diplomacia, o banqueiro destacou a neutralidade brasileira como ativo estratégico:
“Somos uma nação amiga, com boas relações com os EUA, Europa, China e Oriente Médio. Temos o poder brando dos recursos naturais e da paz. Se mantivermos o equilíbrio, podemos ganhar espaço neste mundo polarizado.”
Coordenação fiscal e monetária
Ao abordar a política doméstica, André Esteves defendeu maior coordenação entre as políticas fiscal e monetária.
“É como dirigir com um pé no acelerador e outro no freio”, afirmou.
Ele acredita ser possível realizar um ajuste fiscal de até 2% do PIB sem prejudicar programas sociais, ressaltando que “a economia está funcionando e depende só de nós”.
O banqueiro também apontou o baixo desemprego como sinal de que há espaço para revisar mecanismos automáticos de aumento de benefícios.
“Temos uma política de salário mínimo com ganhos reais e um sistema previdenciário que cresce 2,5% ao ano. Nem as social-democracias europeias têm isso.”
Reformas microeconômicas e incentivo à produtividade
Defensor do Bolsa Família, que chamou de “ideia brilhante”, Esteves ponderou que o programa se expandiu além do necessário.
“Nossa rede de bem-estar social hoje é maior que a da França ou da Suécia”, observou.
Ele defendeu que beneficiários de programas de baixa produtividade sejam incentivados a ingressar no mercado formal, ampliando a base tributária e reforçando a dignidade do trabalho.
Para o futuro, o foco deve ser reformas microeconômicas e simplificação regulatória.
“Não deveria levar um ano para abrir uma pizzaria em uma grande cidade brasileira”, ironizou.
Crescimento baseado em produtividade
Na visão de Esteves, a disciplina fiscal deve ser o pilar macroeconômico, enquanto o avanço microeconômico deve vir de uma agenda pró-negócios, com menos burocracia, mais competição e estabilidade regulatória.
“A disciplina fiscal é o pilar macro. No lado micro, precisamos de uma agenda pró-empresa. O resto virá naturalmente”, concluiu.

