Trump anuncia tarifa de 100% sobre filmes produzidos fora dos Estados Unidos
Medida do presidente ameaça modelo global de Hollywood, gera incertezas jurídicas e pode aumentar custos para consumidores
247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou nesta segunda-feira (29) que pretende impor uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos fora do país e posteriormente exibidos no mercado norte-americano. A informação foi divulgada pela agência Reuters. A medida, que já havia sido cogitada em maio, ameaça desestruturar o modelo global da indústria cinematográfica, fortemente dependente de coproduções internacionais e receitas de bilheteria vindas do exterior.
Em postagem em sua rede social Truth Social, Trump justificou a decisão com ataques diretos a outros países: “Our movie making business has been stolen from the United States of America, by other Countries, just like stealing candy from a baby” (“Nosso negócio de fazer filmes foi roubado dos Estados Unidos da América por outros países, como roubar doce de uma criança”).
Incertezas jurídicas e falta de detalhes
Ainda não está claro sob qual base legal Trump poderia aplicar tarifas desse porte sobre produções estrangeiras. A Casa Branca não respondeu aos questionamentos da Reuters sobre os mecanismos de implementação, e os principais estúdios de Hollywood — Warner Bros Discovery, Paramount Skydance e Netflix — também não se manifestaram até o momento. A Comcast foi a única empresa a confirmar que não comentaria o caso.
O analista Paolo Pescatore, da PP Foresight, afirmou: “There is too much uncertainty, and this latest move raises more questions than answers” (“Há incerteza demais, e esse último movimento levanta mais perguntas do que respostas”). Segundo ele, os custos adicionais inevitavelmente seriam repassados aos consumidores.
Repercussões na indústria cinematográfica
A primeira vez que Trump falou sobre a tarifa, em maio, já havia causado apreensão entre executivos da indústria. Uma coalizão de sindicatos e associações do setor enviou uma carta ao presidente, pedindo o incentivo fiscal à produção doméstica como alternativa. O objetivo era estimular a volta de projetos de cinema e televisão para os Estados Unidos.
Dados da Motion Picture Association indicam que, em 2023, a indústria norte-americana registrou superávit de US$ 15,3 bilhões no comércio exterior, sustentado por US$ 22,6 bilhões em exportações de filmes e séries.
Impacto nas coproduções internacionais
Especialistas ressaltam que a medida pode atingir em cheio o funcionamento da cadeia global do cinema. Hoje, a produção de filmes envolve etapas distribuídas em diversos países, incluindo financiamento, efeitos visuais e pós-produção. Além disso, estúdios dos EUA têm explorado hubs no Canadá, Reino Unido e Austrália, atraídos por benefícios fiscais para grandes produções.
As coproduções com estúdios europeus e asiáticos também se tornaram frequentes, garantindo acesso a mercados locais e redes de distribuição. Um imposto amplo sobre filmes estrangeiros poderia, portanto, prejudicar não apenas parceiros internacionais, mas também milhares de trabalhadores norte-americanos empregados em produções no exterior.
Em 2023, os gastos de produção dentro dos Estados Unidos caíram 26% em comparação com 2022, segundo executivos do setor. Esse movimento reflete a crescente dependência de estruturas internacionais que poderiam ser diretamente afetadas pela medida anunciada por Trump.
A decisão de Donald Trump de impor tarifas de 100% sobre filmes produzidos fora dos Estados Unidos é mais um passo de sua agenda protecionista, agora direcionada ao setor cultural. A medida traz riscos de encarecimento para consumidores, ameaça o modelo de negócios global de Hollywood e adiciona novas incertezas jurídicas e econômicas a uma indústria que já enfrenta queda de investimentos internos.
