Hospedagem na COP30 expõe crise em Belém: 88% dos países sem reservas por preços abusivos
Pesquisa da ONU aponta que diárias acima de US$ 200 estão inviabilizando participação de delegações, especialmente das nações mais pobres
247 – A preparação de Belém para sediar a COP30, em novembro, já enfrenta um problema grave: 88% das delegações estrangeiras ainda não conseguiram reservar hospedagem na capital paraense. O principal obstáculo não é a falta de acomodações, mas os preços considerados abusivos por chefes de delegações e representantes da sociedade civil. Os dados fazem parte de uma pesquisa conduzida pelo secretariado da Convenção sobre Mudança Climática da ONU (UNFCCC), divulgada nesta sexta-feira (22) em reunião do Bureau da entidade, e revelados pelo Valor Econômico.
Dos 195 países consultados, 147 responderam à pesquisa. Apenas 10% das delegações já têm hospedagem garantida, enquanto 90% permanecem sem alternativa. Entre os países desenvolvidos, 34% confirmaram reservas, mas entre os em desenvolvimento o percentual cai para apenas 6%. A desigualdade também se reflete entre as nações mais pobres e as insulares: mais de 90% não conseguiram quartos.
Delegações denunciam preços abusivos
A principal reclamação é o valor cobrado por hotéis e imóveis em Belém. Um dos depoimentos reunidos pela pesquisa destaca: “Tem sido difícil identificar propriedades com qualidade comparável às COPs anteriores... é significativamente mais caro do que pagamos em qualquer COP anterior, e isso está fazendo com que precisemos minimizar o tamanho da nossa delegação.”
Outro relato afirma que “preços superiores a US$ 200 por dia estão além do financiamento disponível para os delegados dos países em desenvolvimento”. Para as nações mais pobres, a situação é ainda mais crítica: delegações pedem tarifas que não ultrapassem 50% da diária subsidiada pela ONU (DSA), que em Belém é de US$ 144.
Impactos logísticos e diplomáticos
Mesmo entre as delegações que conseguiram hospedagem — em geral países ricos —, as dificuldades persistem. Mais da metade reclamou da limitação de quartos em relação ao tamanho de suas equipes. Já os que não encontraram acomodações apontaram como segunda maior barreira a exigência inicial de estadias mínimas de 21 dias, posteriormente flexibilizada pelo governo brasileiro para dez diárias.
Além dos preços e da disponibilidade restrita, muitas delegações manifestaram preocupação com a localização dos quartos, pedindo acomodações próximas aos locais onde ocorrerão as reuniões da COP30. A maioria das delegações precisa de entre 11 e 20 quartos, tanto entre os que já reservaram quanto entre os que seguem sem opções.
Desafio para o Brasil
O cenário expõe o risco de o maior evento climático do planeta, que deverá reunir chefes de Estado, ministros, cientistas e representantes da sociedade civil, ser marcado por dificuldades logísticas que podem comprometer a participação plena dos países mais pobres.
A pressão internacional sobre o Brasil deve aumentar, já que garantir condições justas e viáveis de hospedagem é considerado um requisito fundamental para o sucesso da conferência.