ESG² na COP30, o novo paradigma que une clima, economia, segurança e geopolítica
Conceito ganha força na COP30, em Belém, e reflete a transição do idealismo ambiental para o realismo geopolítico, com o Brasil no centro do debate
247 – A abertura da COP30, em Belém, marca o surgimento de uma nova visão global sobre sustentabilidade: o ESG² — uma evolução do tradicional conceito de Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança). A ideia amplia o foco para incluir Economia, Segurança e Geopolítica, refletindo um mundo em que crises energéticas, pandemias e guerras se entrelaçam com o debate climático. As informações são da coluna do jornalista André Vieira, no portal Brazil Stock Guide (leia aqui o texto original).
O ESG² nasce do reconhecimento de que o clima não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica, estratégica e geopolítica. Criado nos anos 2000, o ESG original buscava medir a responsabilidade corporativa com base em critérios ambientais, sociais e de governança. Por um tempo, isso pareceu suficiente — até que o mundo mudou.
Guerras, crises de energia e pandemias expuseram que a sustentabilidade depende de fatores muito além da redução de emissões ou da publicação de relatórios corporativos. Hoje, o preço da energia, o acesso a alimentos e a estabilidade internacional são tão determinantes quanto a preservação das florestas.
Da utopia climática ao realismo geopolítico
O conceito ESG² surgiu no fim de 2023, em relatórios de risco e estudos sobre segurança energética e cadeias de suprimento. Think tanks europeus e americanos passaram a falar em Security-ESG (SESG) ou Geo-ESG, enquanto gestores de fundos adotaram a expressão ESG² — “ESG elevado ao quadrado”.
O raciocínio é direto: não há sustentabilidade sem resiliência, nem resiliência sem economia, segurança e geopolítica integradas na mesma equação. A transição do idealismo climático para o realismo geopolítico define essa nova etapa.
Lula, a Amazônia e a geopolítica do petróleo
A própria agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ilustra essa inflexão. Logo após abrir a COP30 em Belém, Lula viajou à Colômbia para uma visita de solidariedade à Venezuela — país rico em petróleo, sob sanções e novamente ameaçado por intervenções dos Estados Unidos.
O gesto mostra que o Brasil busca equilibrar diplomacia ambiental e realpolitik regional, consolidando-se como protagonista tanto da agenda verde quanto da geopolítica latino-americana. Na prática, a política climática agora passa inevitavelmente pela geopolítica do petróleo.
Riscos e potencial do ESG²
Apesar do entusiasmo, especialistas alertam que o conceito ampliado corre o risco de se tornar excessivamente elástico. Governos e empresas podem invocar argumentos de “segurança” ou “economia” para justificar contradições, como investimentos em combustíveis fósseis ou o adiamento de metas climáticas.
A utilidade do ESG² dependerá de sua capacidade de integrar a urgência ambiental, e não de substituí-la. Em um mundo em transição, o desafio é conciliar desenvolvimento, energia e estabilidade política sem perder de vista o compromisso com o planeta.
O papel do Brasil
Ao sediar a COP30 e projetar influência regional, o Brasil se posiciona no centro da discussão sobre o verdadeiro significado de “sustentabilidade”. O conceito de ESG² parte de uma constatação pragmática: preservação ambiental e desenvolvimento econômico caminham juntos.
A energia que move as economias, as indústrias que geram empregos e a estabilidade política que evita colapsos são parte da mesma equação. O desafio — e também a oportunidade — é o de mostrar que o Brasil pode ser a ponte entre o mundo verde e o mundo real, liderando um novo paradigma global de sustentabilidade.


