América Latina pode liderar justiça do clima no mundo, defende André Corrêa do Lago
Presidente da COP30 afirma que evento será vitrine para desenvolvimento com justiça climática
247 - Durante a II Cúpula Parlamentar de Mudança Climática e Transição Justa da América Latina e do Caribe, realizada nesta quarta-feira (6) no Congresso Nacional, o embaixador e presidente da COP30, André Corrêa do Lago, reforçou o papel estratégico dos parlamentares na agenda climática global.
Em sua fala, Corrêa do Lago destacou que a transição energética e ecológica precisa estar conectada ao desenvolvimento social. “Se não for uma transição justa, na Europa os eleitores votam contra o aumento do preço da energia. Nos países em desenvolvimento, a eliminação de atividades que geram emprego pode ser mal interpretada. Portanto, não podemos permitir que a agenda climática seja vista como negativa do ponto de vista social. Ela tem que estar ligada ao crescimento, à criação de empregos e à melhoria de vida das populações”, afirmou.
O presidente da COP30 listou três prioridades do governo brasileiro para a conferência da ONU sobre o clima, que será realizada em 2025, em Belém: fortalecer o multilateralismo, traduzir os resultados da conferência para a sociedade e ampliar soluções climáticas concretas, com foco em adaptação. “O multilateralismo é a democracia internacional. Queremos que as decisões da COP30 sejam compreendidas pela população, pelo setor privado e pelos governos locais, mostrando seu impacto real”, disse.
Corrêa do Lago apresentou ainda a estrutura inovadora da COP30, que contará com uma Agenda de Ação paralela às negociações oficiais, reunindo mais de 350 eventos com participação de governos subnacionais, empresas, universidades e sociedade civil. “Essa agenda dará um dinamismo extraordinário à COP, mostrando que já existem soluções para muitos dos desafios do clima. Os parlamentares têm um papel essencial nesse processo”, afirmou.
Outro destaque da preparação brasileira para a COP30 são os quatro círculos de discussão organizados pela presidência: ex-líderes de COPs, povos indígenas e comunidades tradicionais, ministros da Fazenda, além de um Balanço Ético Global com lideranças religiosas e intelectuais. Segundo o embaixador, o objetivo é envolver diversos setores para responder à urgência climática. “Precisamos de um esforço coletivo para enfrentar a crise do clima, que avança mais rápido do que o esperado”, alertou.
Ao receber a Carta dos Parlamentares da América Latina e do Caribe — documento com propostas legislativas para fortalecer a ação climática —, Corrêa do Lago defendeu que o momento agora é de implementação. “Temos 30 anos de legislação climática acumulada. Agora, é hora de agir. A COP30 será o momento de ajustar os instrumentos e acelerar a implementação”, disse, convidando os presentes para a conferência “no coração da Amazônia”.
Para viabilizar a presença de todos os países em Belém, o embaixador também revelou que a Secretaria Extraordinária para a COP30 (SECOP) já garantiu hospedagens a preços acessíveis para representantes de nações com menor renda e ilhas vulneráveis. “Estamos falando de mais de 70 países que recebem uma diária muito baixa e que ainda acham caro. Mas estamos trabalhando e vamos conseguir garantir a participação de todos”, assegurou.
Durante a Cúpula, parlamentares e autoridades internacionais reforçaram a importância do engajamento político nos esforços climáticos. O senador Jaques Wagner (PT-BA) ressaltou que a América Latina e o Caribe têm sofrido os efeitos mais severos da crise, mas também concentram soluções. “Reduzimos em 50% o desmatamento da Amazônia em dois anos e apresentamos uma NDC ambiciosa, com meta de cortar 67% das emissões até 2035”, afirmou. Ele ainda cobrou maior compromisso financeiro dos países desenvolvidos, lembrando que, apesar da meta global ser de US$ 300 bilhões anuais, as necessidades reais somam US$ 1,3 trilhão até 2035.
O colombiano Javier Medina Vásquez, secretário executivo adjunto da CEPAL, elogiou a liderança regional e destacou o papel dos legisladores na materialização de compromissos multilaterais. “O Observatório Parlamentar de Mudança Climática é um exemplo de como os legisladores podem transformar compromissos internacionais em leis nacionais”, disse. Ele também apontou a COP30 como um marco para fortalecer economias verdes, capazes de gerar empregos e combater desigualdades.
A Cúpula Parlamentar segue até esta quinta-feira (7) com debates sobre justiça ambiental, financiamento climático e integração regional. A expectativa dos organizadores é de que os legisladores da América Latina e do Caribe consolidem um legado propositivo e ambicioso para a COP30, reafirmando o protagonismo do Sul Global na luta por justiça climática.
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