“A Terra não comporta mais o uso intensivo de combustíveis fósseis”, diz Lula
Em discurso na Cúpula de Líderes da COP30, o presidente destacou o papel do Brasil na transição energética e defendeu justiça climática global
247 - Durante a Cúpula de Líderes da COP30, realizada nesta sexta-feira (7) em Belém (PA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o mundo precisa rever com urgência o modelo econômico baseado em combustíveis fósseis, sob risco de colapso climático. “As decisões que tomarmos com relação ao setor energético definirão nosso sucesso ou nosso fracasso na batalha contra a mudança do clima”, declarou o chefe do Executivo.
Lula apresentou um plano de transição energética sustentado em três eixos: a implementação do acordo firmado em Dubai, que prevê triplicar a energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030; a erradicação da pobreza energética; e a adesão ao Compromisso de Belém, que busca quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.
Brasil como referência em energia limpa
Lula destacou que o Brasil é um dos líderes mundiais em energia limpa e um exemplo de país que alia crescimento econômico à sustentabilidade. “O Brasil não tem medo de discutir a transição energética. Somos líderes nessa área há décadas. Ainda nos anos 1970, fomos o primeiro país a investir em larga escala em alternativas renováveis e 90% da matriz elétrica nacional provém de fontes limpas”, ressaltou.
O presidente lembrou que o país é o segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo e pioneiro no desenvolvimento de motores flexíveis. “Nossa gasolina tem 30% de etanol na composição e nosso diesel conta com 15% de biodiesel. O etanol é uma alternativa eficaz e imediatamente disponível para os setores mais desafiadores, como a indústria e os transportes”, afirmou.
Avanços e desafios globais
Segundo Lula, a transição energética global já apresenta sinais de avanço. “O uso de renováveis triplicou nos últimos dez anos. No primeiro semestre de 2025, a energia renovável tornou-se a maior fonte individual de geração de eletricidade no mundo, ultrapassando o carvão. Em muitas regiões, as energias solar e eólica já são mais baratas do que as geradas por combustíveis fósseis, e o preço das baterias caiu 90%”, observou.
No entanto, o presidente advertiu que a lentidão na redução das emissões mostra a necessidade de maior compromisso internacional. “Os incentivos financeiros muitas vezes vão no sentido contrário ao da sustentabilidade. No ano passado, os 65 maiores bancos se comprometeram a conceder 869 bilhões de dólares ao setor de petróleo e gás. Desde a adoção do Acordo de Paris, a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global caiu apenas de 83% para 80%”, alertou.
Combate à pobreza energética
Outro ponto central do discurso foi a urgência de eliminar a pobreza energética, que ainda atinge bilhões de pessoas no mundo. “Dois bilhões de pessoas não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar e 660 milhões dependem de lamparinas ou geradores a diesel. São 200 milhões de crianças que frequentam escolas sem luz elétrica. Sem energia, não há conexão digital, hospitais funcionando ou agricultura moderna”, destacou Lula.
Financiamento e justiça climática
Lula defendeu o fortalecimento do financiamento internacional para a descarbonização e o acesso dos países do Sul Global às novas tecnologias. “Um processo justo, ordenado e equitativo de afastamento dos combustíveis fósseis demanda acesso a tecnologias e financiamento. Há espaço para explorar mecanismos inovadores de troca de dívida por investimentos em mitigação climática”, afirmou.
O presidente também anunciou a criação de um Fundo Nacional de Transição Energética no Brasil, destinado a financiar ações de enfrentamento à crise climática e promover justiça ambiental. “É tempo de diversificar nossas matrizes energéticas, ampliar as fontes renováveis e acelerar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis”, disse.
“Século da catástrofe ou da reconstrução”
Encerrando o discurso, Lula pediu união e responsabilidade aos líderes mundiais diante do dilema climático. “Nesta COP, os negociadores devem buscar o entendimento. Os líderes devem decidir se o século XXI será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente”, concluiu.


