Lula cita “apocalipse climático” ao criticar “mundo conflagrado”
Na COP, presidente criticou volume de recursos destinados a guerras
247 - Durante seu discurso na Cúpula do Clima (COP), realizada nesta sexta-feira (7) em Belém (PA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas à desigualdade na destinação de recursos globais. Ele afirmou que o mundo caminha para um “apocalipse climático” enquanto potências internacionais continuam priorizando gastos militares em detrimento da ação climática.
O presidente alertou que as decisões sobre o setor energético definirão “o sucesso ou o fracasso” da humanidade na luta contra o aquecimento global. “A Terra não comporta mais um modelo de uso intensivo de combustíveis fósseis”, declarou Lula, lembrando que 75% das emissões de gases de efeito estufa provêm da produção e do consumo de energia.
O chefe do Executivo brasileiro lamentou o aumento das emissões de carbono no último ano e apontou a contradição entre os compromissos ambientais e o financiamento contínuo de combustíveis fósseis. “Em 2024, o setor energético registrou o maior índice de emissões desde 1957. No ano passado, os 65 maiores bancos do mundo se comprometeram a conceder US$ 869 bilhões para o setor de petróleo e gás”, destacou.
Lula enfatizou que, desde a adoção do Acordo de Paris, a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global caiu apenas de 83% para 80%, avanço que considerou insuficiente. Ele também criticou o impacto das guerras recentes, afirmando que o conflito na Ucrânia reverteu parte dos esforços globais de redução de gases de efeito estufa. “Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático. Não haverá segurança energética em um mundo conflagrado”, advertiu.
O presidente ressaltou a necessidade de combater todas as formas de “pobreza energética”, que afetam bilhões de pessoas em todo o planeta. “Dois bilhões de pessoas não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar, 660 milhões dependem de lamparinas ou geradores a diesel nas periferias das grandes cidades e nas áreas rurais da América Latina, da África e da Ásia. Duzentos milhões de crianças frequentam escolas sem acesso à luz elétrica”, enumerou.
Segundo Lula, a desigualdade estrutural e as dívidas externas impagáveis dificultam o avanço dos países em desenvolvimento rumo à sustentabilidade. “Sem equacionar a injustiça de dívidas externas impagáveis e sem abandonar condicionalidades que discriminam países em desenvolvimento, andaremos em círculos”, afirmou.
Por fim, o presidente voltou a defender a transição energética como uma oportunidade para gerar emprego, renda e crescimento econômico sustentável. “Não podemos nos omitir diante da magnitude desse desafio”, concluiu Lula, reforçando o papel do Brasil como liderança global no debate climático.

