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Reag é acusada de estruturar fundos usados pelo PCC para lavar dinheiro, aponta Gaeco

MP diz que gestora e sócios participaram de operações que ocultaram patrimônio e movimentaram recursos ilícitos por meio de fundos ligados à facção

Reag Investimentos (Foto: Divulgação)

247 – A Reag Investimentos, uma das maiores gestoras de recursos do país, é acusada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) de ter atuado na estruturação de fundos e empresas usados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. A denúncia, apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra que a Operação Carbono Oculto desvendou um esquema sofisticado que envolvia a criação de estruturas jurídicas e societárias com o objetivo de dificultar a identificação dos verdadeiros donos dos ativos.

De acordo com o Gaeco, a Reag, a Altinvest e pessoas ligadas a ambas as gestoras participaram de aquisições e operações financeiras que viabilizaram a movimentação de recursos sem origem comprovada, em valores que, em alguns casos, superavam R$ 50 milhões. As gestoras teriam representado legalmente fundos e empresas controladas por integrantes da facção, facilitando o trânsito de capital ilícito no sistema financeiro formal.

Envolvimento com a Usina Itajobi e o grupo Mourad

Entre os casos investigados, a Reag aparece como administradora de recursos utilizados para a compra da Usina Itajobi, em Catanduva (SP). Segundo o Ministério Público, a aquisição foi feita por meio do fundo Mabruk II, gerido pela Reag e abastecido com recursos de Mohamad Houssein Mourad, conhecido como Primo, apontado como o principal operador financeiro do PCC.

O documento do Gaeco descreve Mourad como o “epicentro das operações” e detalha sua atuação na criação de uma rede criminosa composta por familiares, sócios e profissionais cooptados, com empresas de fachada em setores como etanol, combustíveis, imóveis, logística e portos. Mourad está foragido desde que teve a prisão decretada.

Em nota, a defesa de Mohamad Mourad negou as acusações e afirmou que ele “tem sido alvo de ilações e conjecturas injustas”. Os advogados sustentam que “até o momento, não existe nenhum indício sequer que permita extrair qualquer ligação com as atividades ilícitas do PCC”.

Executivos da Reag sob suspeita

O Gaeco identificou a participação de Walter Martins Ferreira III, Ramon Dantas e Silvano Gersztel, executivos da Reag, em operações suspeitas. Ferreira III, que até junho de 2025 era sócio da gestora e chegou a ocupar o cargo de diretor de compliance e lavagem de dinheiro, figura como diretor administrativo, financeiro e comercial da Usina Itajobi.

Ramon Dantas, diretor-executivo da Reag DTVM, e Gersztel, outro sócio, assinaram documentos de transações realizadas em nome da gestora. Segundo o Gaeco, ambos “atuaram em circunstâncias absolutamente imprescindíveis para a operacionalização dos fundos de investimento voltados aos propósitos do grupo Mourad”.

A Reag, por sua vez, afirmou em nota que as acusações são “infundadas” e que suas atividades seguem estritamente a legislação vigente, especialmente a Resolução CVM nº 175/2022 e a Lei nº 8.668/1993, que regem os fundos de investimento. A empresa destacou que os atos de seus diretores “foram realizados exclusivamente na condição de representantes legais dos fundos administrados, e nunca em nome próprio”.

Esquema incluía empresas de fachada e triangulação de operações

As investigações mostram que a Reag e seus sócios também são ligados à RPN Partners Participações, uma holding que compartilha endereço com outras sete empresas associadas a Mourad, todas localizadas na Rua Conselheiro Saraiva, em São Paulo. O Ministério Público afirma que o compartilhamento de endereços era parte da estratégia de simulação de operações comerciais e triangulação de notas fiscais, facilitando a lavagem de capitais.

Entre as empresas investigadas estão distribuidoras e postos de combustíveis que, segundo o Gaeco, movimentaram bilhões de reais em operações sem lastro financeiro, muitas delas ligadas a fundos geridos pela Reag.

Altinvest também é citada nas investigações

A denúncia atinge ainda a Altinvest, outra gestora de recursos mencionada pela Operação Carbono Oculto. Um de seus sócios, Rogério Garcia Peres, é apontado como integrante do conselho de administração da Rede Sol Fuel, distribuidora de combustíveis relacionada a empresas ligadas ao grupo Mourad.

A Altinvest, em nota, repudiou qualquer associação ao crime organizado e afirmou que Peres “jamais operou postos de combustíveis”. Segundo a empresa, ele adquiriu imóveis da antiga BR Distribuidora “como investimento imobiliário, dentro da legalidade e de forma devidamente declarada”.

Peres declarou que “desde o início tem colaborado integralmente com as autoridades competentes” e disse confiar que “todos os fatos serão devidamente esclarecidos pelas instâncias responsáveis”.

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