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Pesquisa revela que maioria das brasileiras defende democracia e apoia candidaturas femininas, negras e indígenas

Estudo aponta que 71% das mulheres rejeitam influência religiosa na política e priorizam diversidade na hora do voto

Urna eletrônica (Foto: José Cruz/Arquivo/Agência Brasil)

247 - As brasileiras demonstram clara preferência pela democracia e por candidaturas que representem maior diversidade. Segundo a pesquisa nacional “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, 59% das mulheres consideram a democracia a melhor forma de governo, enquanto apenas 4% manifestaram simpatia por regimes ditatoriais.

O levantamento, divulgado pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc São Paulo, também revelou que 71% das entrevistadas rejeitam a influência da religião nas decisões políticas. O estudo foi realizado em 2023 e ouviu 2.440 mulheres e 1.221 homens em diferentes regiões do país.

Diversidade e representatividade no voto

Entre os fatores que mais pesam na escolha eleitoral das mulheres, 89% afirmaram dar preferência a candidaturas femininas. Além disso, 78% destacaram a relevância de apoiar candidatos negros e 68% consideraram importante votar em representantes indígenas. A tendência também aparece entre os homens, embora em proporções menores: 72% valorizam candidaturas femininas, 71% as negras e 62% as indígenas.

Outro ponto relevante é que 66% das mulheres declararam que tendem a apoiar políticos comprometidos com a demarcação de terras indígenas e com pautas ligadas a esses povos.

Obstáculos e discriminação

O estudo também mostrou que 64% das mulheres percebem preconceito e discriminação contra a participação feminina na política, percepção compartilhada por 55% dos homens.

A cientista social Sofia Toledo, mestra em Sociologia pela USP e pesquisadora do Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo, destaca as razões para essa resistência:

“As razões para tal discriminação se relacionam a estereótipos de gênero, como os homens acharem que a mulher não tem competência nem capacidade para administrar, o fato de a considerar menos inteligente e inferior, o medo que eles têm de perder seu espaço para ela, efeitos do patriarcado e da produção da misoginia”, afirma.

Empobrecimento e desigualdade

Sofia Toledo também chamou atenção para outro dado preocupante: o agravamento da desigualdade social entre mulheres na última década.

“O empobrecimento atinge sobretudo as mulheres negras – 59% têm renda familiar de até dois salários mínimos – e aquelas que vivem na região Nordeste, que representam 64% da amostra. Houve um crescimento de 50% das que são assistidas por benefícios e programas sociais, sendo novamente a maioria representada pelo público feminino negro”, explicou.

Apesar do avanço na escolaridade, a melhoria educacional não se refletiu de forma proporcional no mercado de trabalho. O estudo mostra que a renda média das mulheres segue 40% inferior à dos homens e que apenas 2% delas atingem renda acima de cinco salários mínimos, contra 8% entre os homens.

Violência e desafios no cotidiano

Os dados também expuseram a persistência da violência contra as mulheres: metade das entrevistadas afirmou já ter sofrido algum tipo de agressão, sendo a física a mais citada. O impacto psicológico e emocional foi mencionado por 69% das vítimas. Mesmo com o reconhecimento da Lei Maria da Penha por 91% das mulheres, 71% dos episódios de violência não foram denunciados oficialmente.

Além disso, a pesquisa revelou que 99% dos lares têm as mulheres como principais responsáveis pelos afazeres domésticos, enquanto metade das mães cria os filhos sozinha.

Retrato da realidade feminina

Com quase 25 anos de acompanhamento periódico, o estudo da Fundação Perseu Abramo mostra avanços na consciência política e social das mulheres, mas também evidencia a permanência de desigualdades estruturais. A percepção de que a vida das mulheres piorou em comparação à década anterior e a constatação de que a renda delas segue bem abaixo da dos homens reforçam os desafios ainda presentes na busca por equidade no Brasil.

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