Ministros do STF tratam "chantagens" dos EUA com "indiferença"
Pressões do governo Trump ‘não mudaram nem mudarão nada’ na Corte
247 - Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmaram à coluna de Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, que as recentes ameaças vindas do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não têm produzido efeito dentro da Corte. De acordo com os magistrados, as pressões externas são encaradas com “indiferença” e não alteram as decisões do tribunal.
Um dos ministros avaliou que, “aos poucos, a ficha deles vai caindo para perceber que essa chantagem não mudou, nem mudará, nada nas atitudes do tribunal”. A análise ocorre após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses de prisão pelo STF, em julgamento que o considerou culpado por conspirar para tentar reverter o resultado das eleições de 2022.
Preparação contra sanções e resistência política
Integrantes do Supremo afirmaram ainda que já se prepararam para enfrentar eventuais sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos com base na chamada Lei Magnitsky. Segundo eles, conversas com banqueiros e especialistas em economia garantiram que, mesmo diante de eventuais bloqueios ou restrições, será possível manter suas vidas sem grandes alterações.
Outro ministro destacou que não há possibilidade de Bolsonaro obter anistia no Congresso, uma vez que a proposta não avança no Senado. Da mesma forma, um eventual indulto presidencial também seria derrubado dentro do STF.
Sinal de unidade dentro do Supremo
Como demonstração de coesão interna, ministros que não integravam a Primeira Turma do STF — responsável pelo julgamento — fizeram questão de comparecer à sessão. Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso acompanharam o julgamento presencialmente para marcar posição e reforçar apoio aos colegas que analisavam o processo.
Reações em Washington
A decisão contra Bolsonaro provocou forte reação em Washington. O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, publicou no X (antigo Twitter) que “as perseguições políticas pelo violador de direitos humanos sancionado Alexandre de Moraes continuam, enquanto ele e outros membros do Supremo Tribunal Federal do Brasil decidiram injustamente pela prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro”. Em seguida, acrescentou: “Os Estados Unidos responderão adequadamente a esta caça às bruxas”.
Outros republicanos de menor escalão também engrossaram o coro contra a Corte brasileira. Já Donald Trump declarou estar surpreso com a decisão, mas não confirmou se aplicará novas sanções aos ministros do STF.
Pressão do Congresso americano
Se por um lado republicanos se alinham a Bolsonaro, por outro, parlamentares democratas reagiram de maneira oposta. Em carta divulgada logo após a condenação, deputados dos EUA acusaram Trump de abrir uma guerra comercial em defesa do ex-presidente brasileiro. O documento pede que o governo norte-americano encerre imediatamente o que classificaram como tentativas de “minar a democracia brasileira” e suspenda tarifas consideradas ilegais que, segundo eles, prejudicam a economia dos Estados Unidos.
A carta é assinada por Gregory W. Meeks, integrante do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, por Joaquin Castro, do Subcomitê do Hemisfério Ocidental, e por Sydney Kamlager-Dove, copresidente da frente parlamentar Brazil Caucus. Para os signatários, além de afrontar a democracia brasileira, as medidas impostas pelo governo Trump também afetam famílias americanas, aumentam custos internos e fortalecem a posição comercial da China em detrimento dos Estados Unidos.