Kids pretos: Exército reestrutura batalhão e retira poder de grupo ligado a militares golpistas
Portaria do general Tomás Paiva transfere unidade de operações psicológicas dos “kids pretos” para Brasília e reduz influência do grupo
247 - O Exército brasileiro decidiu modificar sua estrutura interna e enfraquecer o poder do grupo conhecido como “kids pretos”, ligado ao Comando de Operações Especiais e com vários integrantes denunciados por envolvimento na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, informa Octavio Guedes, do g1.
O comandante do Exército, general Tomás Paiva, assinou uma portaria determinando a transferência do Batalhão de Operações Psicológicas — até então sob a estrutura do Comando de Operações Especiais, sediado em Goiânia — para o Comando Militar do Planalto, em Brasília. A medida esvazia o núcleo operacional dos "kids pretos", considerado uma ala autônoma e radicalizada dentro da corporação.
Entre os denunciados está o tenente-coronel Guilherme Marques Almeida, ex-comandante do 1º Batalhão de Operações Psicológicas. A Polícia Federal obteve um áudio em que ele afirma que dá para “fazer um trabalho bom nisso aí”, referindo-se à invasão ao Congresso Nacional em 8 de janeiro de 2023, o que reforçou os indícios de uso indevido da estrutura militar.
Reposicionamento estratégico e crise interna - De acordo com a definição oficial do Exército, o batalhão atua com o objetivo de “influir nas emoções, nas atitudes e nas opiniões de um grupo social, com a finalidade de obter comportamentos predeterminados”. Essa função foi aplicada em operações no Haiti e durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, onde o uso da unidade foi considerado legítimo.
No entanto, a suspeita de que o batalhão teria sido utilizado para estimular manifestantes acampados diante dos quartéis a marchar até a Praça dos Três Poderes — ação tipificada como criminosa — evidenciou a falta de controle da cúpula do Exército sobre o grupo. A mudança promovida por Paiva é vista como tentativa de retomar a autoridade e limitar ações paralelas dentro da instituição.
"Não fazia sentido ter uma estrutura que é para atender ao Exército inteiro dentro de algo menor, que é o Batalhão de Operações Especiais. O Batalhão de Operações Psicológicas está num nível que não pode estar subordinado a um comando específico que pode se beneficiar destas operações caso precise", explicou um general do Alto Comando, em condição de anonimato.
Elite paralela e tensão entre militares - Os chamados “kids pretos” eram formados pelo Comando de Operações Especiais e vinham sendo alvo de críticas internas por seu comportamento hierárquico, considerado descolado da estrutura regular das Forças Armadas. Integrantes do grupo se enxergavam como uma elite, à parte do restante da tropa.
“Exatamente como um policial do Bope se sente em relação ao policial da esquina. Como se ele fosse de uma outra corporação, superiores aos demais colegas de farda. Elite mesmo”, afirmou um oficial.
Apesar dos incômodos com a autonomia do grupo, nenhum comandante anterior havia promovido alterações na estrutura — algo que ocorre agora pela primeira vez sob a liderança de Tomás Paiva. A expectativa dentro da corporação é que outras mudanças venham a ser implementadas para ampliar o controle institucional e conter a atuação de grupos dissidentes.
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