Indústria nacional do aço expressa preocupação com crescimento de importações e tarifas externas
Setor siderúrgico brasileiro cobra medidas de proteção diante da pressão de aço importado, especialmente da China
247 - A indústria siderúrgica brasileira enfrenta um cenário desafiador com o aumento das importações de aço, especialmente da China, e o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Empresas como Gerdau, Usiminas e ArcelorMittal já anunciaram cortes ou adiamentos em seus investimentos devido à queda da demanda interna e ao aumento das tarifas externas, o que coloca em risco a competitividade do setor.
De acordo com a reportagem do Valor Econômico, as importações de aço no Brasil aumentaram significativamente, o que agrava ainda mais a situação da indústria nacional.
Jorge Oliveira, presidente da ArcelorMittal Brasil, alertou que a empresa pretende continuar investindo no país, mas que a sustentabilidade dos projetos depende de medidas eficazes de defesa comercial. "Temos apetite de continuar investindo no Brasil, mas o risco deste futuro é a condição de importação", afirmou.
Oliveira explicou que a penetração do aço importado no mercado brasileiro, que antes da pandemia era de 10%, já ultrapassou os 22%, e que o volume de aço chinês aumentou ainda mais, representando um crescimento de 330%. “Se pegarmos 20 anos pré-covid, a penetração de importação era de 10%, com volume de 2,2 milhões de toneladas. O ritmo deste ano está em 6,3 milhões. Da China, 330%", detalhou.
As tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos, que chegam a 50% sobre o aço brasileiro, têm agravado a situação, além de provocar um desvio de rotas para o mercado interno. Christopher Garman, diretor da Eurasia Group, observou que, embora as tarifas possam ser flexibilizadas no futuro, o impacto no mercado já é visível e afetará diretamente os preços ao consumidor.
O impacto das importações também é observado no setor automotivo. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) alertou sobre a crescente presença de montadoras asiáticas no Brasil, que intensificam a competição e os desafios para a indústria nacional. Antônio Sérgio Martins Mello, vice-presidente da Anfavea e executivo da Stellantis, destacou que, mais do que um confronto direto, é fundamental garantir a estabilidade da cadeia de fornecimento para o setor.
Na Gerdau, a situação também é crítica. André Gerdau Johannpeter, presidente do conselho de administração, afirmou que a indústria está enfrentando “o ano mais conturbado” de sua história recente. Segundo ele, a ociosidade no setor, que chega a 35%, coloca a sustentabilidade das operações em risco. "Estamos chegando ao limite. Reduzir mais a atividade tornará o negócio inviável", declarou.
Apesar das dificuldades, especialistas defendem que é necessário fortalecer a siderurgia nacional para garantir sua competitividade no longo prazo. Eduardo Fischer, CEO da incorporadora MRV, reconheceu que o aumento nos custos impacta diretamente a construção civil, mas ressaltou a necessidade de uma indústria siderúrgica robusta para sustentar a economia nacional. "Nosso setor é de longo prazo, e precisamos também de uma siderurgia nacional robusta", afirmou.