Alckmin critica tarifaço 'injustificado' e 'injusto' dos EUA e diz que ordem de Lula é por 'diálogo e negociação permanente'
Vice-presidente destaca medidas do governo para proteger empresários e trabalhadores brasileiros e afirma que soberania não será negociada
247 - Em reunião ministerial nesta terça-feira (26), o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), criticou o chamado “tarifaço” dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros e afirmou que a determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é manter “diálogo e negociação permanente” para reverter as medidas. As declarações foram feitas em discurso durante o encontro ministerial.
Logo no início, Alckmin classificou as sobretaxas como “injustificadas” e “injustas”, detalhando, com base em dados oficiais do governo, os percentuais e setores atingidos. Segundo o vice, a orientação do Planalto combina defesa do interesse nacional com preservação de empregos e apoio às empresas exportadoras.
De acordo com Alckmin, uma parcela relevante das vendas brasileiras aos EUA está fora das tarifas gerais de 40%, enquanto outra parte migrou para a regra global da Seção 232 — aplicada indistintamente a vários países —, o que reduz o impacto competitivo sobre o Brasil. “O último número que nós temos é de 41,3% estão excluídos da tarifa de 40%. São produtos que foram excluídos. Avião, suco de laranja, ferroliga… 23,2% na chamada Seção 232. É uma seção que estamos com o mundo inteiro juntos. Aço, alumínio e cobre, 50%, mas para o mundo inteiro. Não perdemos competitividade”, afirmou.
O vice-presidente ressaltou que, no caso de automóveis e autopeças, a alíquota de 25% também vale “para o mundo inteiro”, e detalhou o núcleo mais sensível das medidas. “Aí temos realmente 35,6% que injustificadamente temos 10% mais 40%, o que dá os 50% do tarifaço. Aí tem alimentos, como café, carnes, pescados, frutas, a indústria, máquinas e equipamentos”, disse.
Alckmin relatou ainda um avanço recente a favor do Brasil, após comunicação do Departamento de Comércio dos EUA. “Na semana passada tivemos uma notícia boa, porque o Departamento de Comércio [dos EUA] falou ‘olha, o que tiver aço dentro e alumínio passa para a Seção 232’. Então uma máquina, uma motocicleta, um equipamento, à medida que esse conteúdo de aço ou de alumínio passa para a Seção 232, ficamos igual ao restante”, declarou. Segundo ele, essa reclassificação alcança cerca de US$ 2,6 bilhões — o equivalente a 6,4% das vendas do Brasil para os EUA em 2024, que somaram US$ 40,4 bilhões no ano passado.
Ao criticar a base econômica das sobretaxas, o vice-presidente exibiu números do comércio bilateral. “É totalmente injustificado, porque dos 20 países do G20, só com três os Estados Unidos têm superávit: Brasil, Reino Unido e Austrália. E neste ano nossa exportação para os Estados Unidos cresceu 4,2%, e a deles para nós 12,6%. É uma coisa totalmente fora dos parâmetros”, pontuou.
Alckmin afirmou que a diretriz do presidente Lula é insistir na via diplomática, preservando princípios institucionais e a soberania. “O presidente Lula tem orientado diálogo permanente, soberania - o Brasil não abre mão da sua soberania -, Estado de Direito, separação dos Poderes - que é peça basilar do Estado de Direito - e, ao mesmo tempo, negociação e diálogo para a gente corrigir essa absoluta distorção da política regulatória”, disse.
Como contrapartida doméstica, o governo aciona um pacote de apoio às empresas afetadas e de estímulo à competitividade externa. “Foi lançado o Plano Brasil Soberano, crédito de R$ 40 bilhões com juros mais baixos, fundo garantidor - FGO, FGI e FGCE -, drawback prorrogado, Reintegra para pequenas, médias e grandes empresas que exportam para os Estados Unidos, que vão ter 3% de crédito para poderem abrir novos mercados”, detalhou. O vice informou que, “daqui a pouquinho”, embarcaria com a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), para agendas no México com “possibilidades na área agrícola, biocombustível, avião, energia, industrial”, acompanhados por “quase 100 empresários brasileiros”.
Ao final, Alckmin reforçou o diagnóstico e a estratégia: “Destacar aqui a injustificada medida americana e extremamente injusta. E a disposição do presidente Lula do diálogo permanente para a gente corrigir essa questão. Enquanto isso, medida focada, pontual, temporária de apoio às empresas e preservação do emprego".