IAB rebate denúncia de destituição e diz que ex-oradora renunciou ao cargo
Instituição afirma que saída de Soraia Mendes ocorreu por decisão própria e nega relação com críticas de cunho político
247 - O Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) divulgou uma nota oficial para esclarecer a controvérsia em torno da saída da jurista Soraia Mendes, primeira mulher negra a ocupar o cargo de oradora em mais de 182 anos de história da entidade. A advogada acusou o IAB de tê-la destituído após suas críticas ao genocídio cometido por Israel na Faixa de Gaza, tema sobre o qual se manifestou publicamente em eventos e redes sociais.
De acordo com o texto divulgado pelo IAB, a jurista teria comunicado sua renúncia ao cargo por e-mail, alegando sobrecarga de compromissos, desconfortos políticos e falta de valorização interna. “A renúncia foi formalmente acolhida pela presidência e referendada pela diretoria plena”, diz a nota. O documento afirma ainda que, após a substituição ser efetivada, Mendes tentou reverter a decisão, alegando “ausência de solenidade formal no ato”.
Jurista nega ter pedido renúncia
Soraia Mendes contesta a versão da entidade. Em áudio de 14 minutos enviado à presidente do IAB, Rita Cortez, a advogada afirma que sua fala foi interpretada de maneira equivocada. “Eu não quero ser o rosto nem a voz de algo que me faça silenciar diante de atrocidades. Não me sinto confortável em permanecer numa diretoria que, pelo silêncio, é conivente com o genocídio”, disse. Segundo Mendes, o áudio “foi um desabafo, não um ato administrativo”.
A jurista, doutora em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que seus discursos e imagens foram removidos do site e das redes sociais do IAB após suas manifestações sobre a guerra em Gaza. “Fui cortada das divulgações e percebi que não havia mais espaço para uma voz crítica, especialmente de uma mulher negra”, declarou.
Posição do Instituto
A presidente do IAB, Rita Cortez, disse que o cargo foi oferecido posteriormente ao advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, e que a diretoria aprovou a decisão “por unanimidade”. Em nota, a instituição reforçou que mantém “firme compromisso com as liberdades democráticas, os direitos humanos e a igualdade social”, e que “lamenta a disseminação de informações equivocadas que desqualificam o trabalho institucional coletivo”.
O IAB também criticou a “eventual instrumentalização de pautas identitárias em disputas pessoais”, acrescentando que tais práticas “se distanciam dos valores institucionais e podem comprometer o avanço das agendas antirracistas e de equidade de gênero”.
Contexto internacional e denúncias de genocídio
A crise que motivou as declarações de Mendes ocorre em meio à intensificação das ofensivas israelenses na Faixa de Gaza, onde, segundo o Ministério da Saúde local, mais de 68 mil palestinos foram mortos desde outubro de 2023. A situação levou a África do Sul a acionar a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que determinou a Israel a adoção de medidas para prevenir atos de genocídio e garantir ajuda humanitária.
O cessar-fogo firmado em 13 de outubro de 2025, com mediação do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, do Egito, Catar e Turquia, previa a libertação de prisioneiros palestinos e israelenses e a abertura de corredores humanitários — medidas que, segundo observadores, não foram integralmente cumpridas.

