“Nunca tivemos oportunidade de fazer pressão, pois nunca chegamos próximo do poder”, diz Soraia Mendes sobre vaga ao STF
"Podemos debater a respeito de nomes que têm a responsabilidade com a concretização do texto da Constituição em termos de democracia e justiça social”. diz
247 - Entidades do movimento social, juristas e acadêmicos do Brasil pedem que Lula indique a advogada Soraia Mendes, mulher e negra, à próxima vaga do Supremo Tribunal Federal (STF).
Soraia, que é professora e autora de livros de teoria feminista no Direito Criminal, participou do programa Brasil Agora, da TV 247, e falou sobre a polêmica em torno da campanha por uma mulher negra para a corte.
“Nunca tivemos oportunidade de fazer pressão, pois nunca chegamos próximo do poder”, salientou a advogada. “Dizer que o presidente está sendo pressionado é reduzir a dimensão imensa que tem a figura do presidente Lula como um democrata e um operário que chegou três vezes à Presidência da República”, disse.
Segundo ela, Lula “é sensível para compreender o que significa o papel da mulher negra e o que significará a indicação de uma mulher negra para o Supremo Tribunal Federal”.
A advogada tem todos os requisitos para o cargo. Tem mestrado, doutorado e pós-doutorado por universidades federais e vinte anos de docência, além de mais de uma dezena de livros publicados, a maioria na área de Direito Criminal e Gênero.
Nasceu no Rio Grande do Sul e foi criada na Vila Sepé Tiaraju, uma favela em Viamão, na Grande Porto Alegre. É filha de uma empregada doméstica e de um operário sindicalista.
“Tenho o apoio de todas as centrais sindicais do Rio Grande do Sul. Tenho uma trajetória voltada para a emancipação social. Eu me coloco num cenário que faz com que eu possa dizer que em última instância ser mulher negra é fundamental. Não é um ponto de partida, mas um ponto de chegada. Nós estamos preparadas e reconhecemos que neste momento da história é dada a possibilidade de uma mudança paradigmática na composição da corte. Significa levar até lá uma construção maior do que raça e gênero, mas uma conciliação de gênero, raça e classe”, enfatizou.
Ela reforça que a “afirmação da negritude é uma afirmação política”. “É uma identidade política, E não tem nada a ver com identitarismo”, rebate.
E acrescenta: “Representatividade importa! Mas não basta ser mulher e não basta ser mulher negra. Estamos num momento em que podemos discutir e debater a respeito de nomes que têm a responsabilidade com a concretização com o texto da Constituição em termos de democracia e justiça social”.
Questionada sobre se considerava como uma jurista garantista, Soraia afirmou que "o garantismo, na sua totalidade, passa pela justiça social".
“Justiça social é o que embala o projeto que elegeu o presidente Lula. O garantismo é uma teoria que também se projeto de uma forma mais aprofundada como uma teoria em relação à democracia. O garantismo também é social. É a possibilidade que os trabalhadores demandem direitos ou a efetivação de direitos”, concluiu.