Fed abre espaço para cortes de juros no Brasil, aponta banco dos EUA
Bank of America prevê afrouxamento monetário na América Latina diante de desaceleração global e menor pressão inflacionária
247 - O Bank of America (BofA) avaliou, em relatório citado pelo portal Investing.com, que a esperada redução das taxas de juros pelo Federal Reserve deve abrir espaço para cortes mais agressivos nos juros do Brasil, da Colômbia e do México nos próximos anos. Segundo a análise, o Fed deve promover uma redução acumulada de 125 pontos-base até o final de 2026, começando por um corte de 25 pontos-base em setembro de 2025.
De acordo com a instituição, a trajetória dos juros americanos terá impacto direto nas economias latino-americanas. “Taxas de curto prazo mais baixas nos EUA facilitam cortes na América Latina, especialmente no México, que tem uma economia mais ligada à dos EUA”, destacou o BofA.
Cenário de juros elevados na região
Atualmente, as principais economias latino-americanas mantêm taxas básicas em patamares historicamente altos. No Brasil, a Selic está em 15% (11% em termos reais, considerando a inflação projetada para 2026). Na Colômbia, a taxa é de 9,25% (6,25% real), enquanto no México encontra-se em 7,75% (4,25% real). Esses números superam as estimativas de taxas neutras divulgadas pelos próprios bancos centrais.
O BofA projeta quedas expressivas até dezembro de 2026: a Selic deve recuar para 11,25%, a taxa colombiana para 7% e a mexicana para 6,5%. O banco cita a combinação de inflação global controlada, crescimento mais fraco nos Estados Unidos e na China e limitações no preço do petróleo como fatores que favorecem o afrouxamento monetário na região.
Brasil: cortes antecipados pelo Banco Central
No caso brasileiro, o relatório prevê que o Banco Central inicie os cortes em dezembro de 2025, antecipando o consenso de mercado, que aponta início apenas em janeiro de 2026. “A consolidação da desaceleração na atividade econômica favorece nossa previsão de um corte de juros pelo BCB em dezembro”, afirmou a instituição.
Entre os riscos apontados estão uma política fiscal mais expansionista, a desvalorização do real e tensões geopolíticas, fatores que podem limitar a velocidade do ciclo de queda da Selic.
Colômbia: expectativa fora do consenso
Na Colômbia, o BofA sustenta que a taxa de juros cairá para 7% até o final de 2026, abaixo dos 8,5% precificados atualmente pelos mercados. O corte de 25 pontos-base previsto para setembro de 2025, entretanto, foi adiado para dezembro após sinais de cautela do banco central colombiano diante do aumento do salário mínimo e da demanda interna.
“Não acreditamos que a demanda doméstica esteja muito forte”, ressaltou a instituição, avaliando que o crescimento recente decorre de estímulos temporários, como políticas salariais e remessas de recursos.
México: Banxico deve aprofundar o ciclo de cortes
Já o México, que reduziu a taxa básica para 7,75% ao longo de 2025, deve prosseguir com a trajetória de afrouxamento até atingir 6,5% em 2026. Segundo o BofA, a inflação deve se manter abaixo de 4% nos próximos trimestres, favorecida pela atividade econômica enfraquecida, criação de empregos modesta e valorização relativa do peso.
“Os cortes do Fed reforçam ainda mais nosso caso”, observou a corretora. Mesmo assim, o relatório alerta para riscos, como a inflação de serviços puxada por salários e os efeitos de tarifas sobre produtos importados da China.
Riscos e condicionantes
Apesar da perspectiva de cortes significativos, o BofA chama atenção para possíveis obstáculos: juros americanos mais altos por mais tempo, valorização do dólar, choques no petróleo e pressões fiscais internas, especialmente no Brasil e na Colômbia.
Em sua análise, o banco reforça que a ausência de fortes pressões inflacionárias globais e o desaquecimento das duas maiores economias do mundo criam uma janela para os países latino-americanos reduzirem de forma expressiva seus juros até 2026.