Centrão ameaça retaliar o governo por oposição do PT à PEC da Blindagem
Impasse sobre anistia a bolsonaristas e risco de caducar a MP do Setor Elétrico ampliam crise entre Congresso e Planalto
247 - Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), reuniram-se na noite de terça-feira (16) com líderes partidários para tentar construir um acordo em torno da votação da anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. A movimentação, revelada pelo jornal O Globo, ocorre em meio à ameaça do Centrão de retaliar o governo após o PT se posicionar contra a PEC da Blindagem, proposta que limita investigações contra parlamentares.
O projeto de anistia, que pode favorecer Jair Bolsonaro (PL) e aliados, deve ter seu pedido de urgência analisado nesta quarta-feira (17) na Câmara. A decisão será anunciada após uma reunião com líderes de todas as legendas, marcada para esta manhã.
Pressão política e risco à MP do Setor Elétrico
Governistas temem que a falta de apoio petista à PEC da Blindagem resulte em um gesto de retaliação: a aprovação da urgência da anistia. Esse movimento colocaria o governo em rota de colisão com a base do Centrão e ainda poderia prejudicar a votação da Medida Provisória do Setor Elétrico, que reduz as tarifas de energia e perde validade nesta quarta-feira caso não seja aprovada pelo Congresso.
Estratégia para encerrar o debate da anistia
A maioria dos partidos do Centrão avalia pautar a urgência apenas para derrubá-la em plenário, encerrando assim a possibilidade de aprovação de uma anistia ampla que devolveria a Bolsonaro a chance de disputar eleições. Nesse cenário, seria discutido um texto mais restrito, voltado à redução de penas, que poderia também beneficiar o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), mas sem restituir direitos políticos.
Apesar dessa alternativa, aliados bolsonaristas rejeitam qualquer versão que não inclua perdão total. O projeto em discussão é de autoria do líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ).
Resistência do PT e risco de impasse
O PT mantém posição contrária a qualquer tipo de anistia. A expectativa da bancada é que, uma vez derrotada a urgência da versão ampla, a discussão seja encerrada definitivamente.
Essa estratégia entra em choque com o plano de líderes do Centrão, que enxergam espaço para manter o debate em torno de um texto mais enxuto. A disputa de narrativas e interesses aumenta o risco de paralisia no Congresso justamente no dia em que o governo depende da votação da MP do Setor Elétrico.
Irritação após a PEC da Blindagem
O clima azedou na Câmara após a votação da PEC da Blindagem, quando o PT orientou contra o texto. Mesmo com 12 deputados petistas votando a favor, líderes do Centrão consideraram que a postura do partido e a ausência de articulação do governo dificultaram a aprovação da proposta.
Um integrante da cúpula do PP chegou a afirmar que os deputados petistas “deveriam ficar de castigo” e não participar das negociações sobre a anistia. A declaração simboliza a tensão crescente entre parlamentares.
A avaliação entre líderes do Centrão é de que, se o governo não se mostrou disposto a atender a uma demanda da Câmara, não há razão para que a Casa se comprometa com projetos de interesse do Executivo. O impasse pode definir os rumos da anistia e da MP que alivia as contas de luz.