Às vésperas do leilão do túnel Santos-Guarujá, empreiteiras brasileiras desistem e caminho fica aberto para Acciona
Gigante espanhola, investigada por corrupção em seu país, mantém proximidade com o governo Tarcísio e desponta como favorita em certame bilionário
247 - Às vésperas do leilão que definirá a concessionária responsável pela construção do túnel submerso entre Santos e Guarujá, marcado para esta sexta-feira (5), as maiores empreiteiras brasileiras desistiram da disputa.
Odebrecht e Andrade Gutierrez abandonaram o processo alegando entraves financeiros, exigências de garantias consideradas excessivas pelo BNDES e o peso ainda persistente dos efeitos da Operação Lava Jato em seus balanços.
Com a retirada das empresas nacionais, o certame ficou restrito a dois grupos estrangeiros: a espanhola Acciona, já responsável por contratos bilionários em São Paulo, e a portuguesa Mota-Engil, que tem participação acionária da estatal chinesa CCCC. A Acciona é considerada favorita, o que reforça sua posição de destaque em obras de grande porte no Brasil, como a Linha 6-Laranja do Metrô paulista.
Lava Jato e juros altos afastam grupos nacionais
As construtoras brasileiras afirmam que a combinação de juros elevados, exigências de garantias robustas e restrições de crédito inviabilizou sua participação. A situação é agravada pelos impactos reputacionais e financeiros da Lava Jato, que, apesar de ter resultado em revisões judiciais de multas bilionárias, ainda limita a capacidade de endividamento das empresas nacionais.
“O projeto é desafiador e por isso a gente viu participação restrita exatamente pela dificuldade em obter financiamento e seguro para fazer frente ao volume de investimento demandado. Isso limitou o universo de participantes, porque esta obra é sobre a capacidade de contrair dívidas. A gente vive em um cenário de alta de juros e o custo financeiro está alto”, explicou o advogado Fernando Vernalha, especialista em infraestrutura, em reportagem da Folha de S. Paulo.
Acciona: proximidade com governo Tarcísio e escândalo na Espanha
A ascensão da Acciona no Brasil se dá em meio à fragilidade financeira das grandes empreiteiras nacionais, porém também reflete sua proximidade com o governo de São Paulo, liderado por Tarcísio de Freitas. A empresa espanhola já executa contratos bilionários com o estado, como a Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, financiada pelo BNDES e estruturada como PPP.
A empresa espanhola também enfrenta uma crise de imagem em seu país de origem. A Polícia Federal espanhola investiga o pagamento de € 620 mil em propina a políticos do Partido Socialista Espanhol, em caso que envolve diretamente a construtora. Apesar de a empresa afirmar que afastou o funcionário ligado às denúncias e abriu investigação interna, o episódio repercute no Brasil e gera apreensão sobre os futuros contratos.
Leilão bilionário e obra inédita no Brasil
O investimento previsto para o túnel é de R$ 6,8 bilhões, em contrato de 30 anos no modelo de Parceria Público-Privada (PPP). A maior parte do valor (R$ 5,14 bilhões) será financiada pelos governos federal e estadual, e R$ 1,66 bilhão virá da iniciativa privada. O vencedor ficará com a arrecadação dos pedágios e contraprestações anuais, que devem variar de R$ 430 milhões a R$ 550 milhões.
A obra será a primeira do tipo imerso no Brasil e prevê a instalação de seis módulos pré-fabricados no fundo do canal.
(Com informações do portal Brazil Stock Guide)