Túnel Santos-Guarujá deve ter disputa entre três grupos no leilão
Consórcio liderado pela Odebrecht, Mota Engil e Acciona despontam como principais concorrentes, mas incertezas políticas e financeiras rondam o projeto
247 - O leilão para a construção do túnel Santos-Guarujá, previsto para a próxima sexta-feira (5), segue mantido apesar das recentes turbulências políticas entre o governo federal e a gestão paulista.
O empreendimento, estimado em R$ 6,8 bilhões em investimentos, mais R$ 1,78 bilhão em custos operacionais ao longo de 30 anos de Parceria Público-Privada (PPP), deverá ser disputado por três grandes grupos: a portuguesa Mota Engil, com participação da chinesa CCCC; o consórcio formado por Odebrecht e EGTC Infra (Queiroz Galvão); e a espanhola Acciona, segundo revelou o jornal Valor Econômico.
Segundo a reportagem, a construtora brasileira Marquise também demonstrou interesse, mas ainda não está entre os favoritos. Já a italiana WeBuild, que havia costurado parceria com a Marquise, desistiu de apresentar proposta. A entrega das ofertas deve ocorrer já na próxima segunda-feira (2).
Incertezas financeiras e entraves políticos
Apesar da confirmação do calendário, fontes do setor apontam dúvidas sobre a capacidade financeira dos grupos. Enquanto a Acciona avalia participar de forma conservadora, Mota Engil e Odebrecht tenderiam a apresentar propostas mais agressivas, embora sua solidez financeira seja questionada. A Odebrecht, inclusive, estaria em busca de parceiros para reforçar o consórcio por meio da Nova Infra, empresa criada para disputar concessões.
A relação entre o governo federal de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é apontada como um dos maiores obstáculos para a licitação. O Estado não obteve financiamento do BNDES para sua parte no aporte inicial — até R$ 2,57 bilhões — mas afirma ter condições de bancar a despesa. Já a União garantiu que sua fatia virá dos recursos da Autoridade Portuária de Santos (APS).
Risco elevado e taxa de retorno abaixo dos juros
Especialistas alertam para um ponto crucial: a taxa de retorno prevista no edital é considerada baixa em comparação aos atuais patamares de juros. Embora haja expectativa de queda no custo do crédito nos próximos anos, o tamanho e a complexidade da obra aumentam o risco para os investidores. “Embora haja perspectiva de queda do custo financeiro nos próximos dois anos, trata-se de um empreendimento muito grande e com muitos fatores de incerteza”, avaliou uma fonte do mercado.
Governo mantém confiança no projeto
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, reforçou o otimismo do governo. “A gente está muito confiante, temos recebido por parte do mercado sinalizações que alguns grupos devem participar do processo. Vemos apetite do setor produtivo”, declarou ao Valor. Já Rafael Benini, secretário de Parcerias de Investimentos de São Paulo, destacou que três grupos estão efetivamente engajados, o que se reflete nos pedidos de esclarecimentos feitos ao edital.
Apesar das críticas do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre fragilidades na governança do projeto, a corte liberou a manutenção do cronograma. “Ficou tudo alinhado entre TCU, governo federal, estadual e APS. Fizemos uma reunião final para que pudesse estar tudo pronto para fazer o leilão no próximo dia 5”, afirmou Costa Filho.
Tecnologia inédita no país e impacto regional
O túnel será o primeiro de imersão submersa no Brasil — técnica já utilizada no exterior há mais de um século. Para Rafael Benini, isso não é um obstáculo: “Todos os interessados se associaram a grupos que já fizeram túneis maiores”. Ele ressalta, contudo, que será necessário paralisar temporariamente o Porto de Santos durante a execução.
A expectativa é de que a obra traga benefícios diretos para a mobilidade e para a economia da região, reduzindo o trajeto rodoviário entre Santos e Guarujá, atualmente de 45 minutos, e diminuindo a dependência das balsas. “Tanto para o turismo, quanto para o desenvolvimento econômico vai ser muito importante. Projetamos um volume de tráfego, mas ainda haverá uma mudança cultural, então o impacto deverá ser até maior do que se consegue prever”, afirmou Benini.