Alcolumbre se torna principal aliado de Lula para barrar Pec da blindagem
Pressão popular, mobilização de artistas e articulação no Senado formam a estratégia para impedir anistia a Bolsonaro e privilégios a parlamentares
247 – Depois das manifestações em São Paulo e no Rio de Janeiro contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia, o governo Lula intensificou sua ofensiva política. O Palácio do Planalto aposta na aliança com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que se tornou peça central para barrar medidas que poderiam beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro e blindar parlamentares investigados. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.
Os atos do último domingo foram os maiores da esquerda em anos recentes, reunindo milhares de pessoas. Em São Paulo, uma bandeira gigante do Brasil foi aberta na Avenida Paulista, em resposta ao ato bolsonarista do 7 de Setembro. No Rio de Janeiro, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e a cantora Anitta deram visibilidade à causa, engrossando o coro contra a “PEC da Bandidagem”, como críticos passaram a chamar a proposta.
Alcolumbre no centro da estratégia
Davi Alcolumbre assumiu papel decisivo e chegou a desabafar em sessão no Senado: “Nós estamos com muitos problemas ao mesmo tempo. Estamos com os problemas daqueles que falam que vão obstruir 24 horas por dia para não votar mais nada e daqueles que não querem votar a legislação porque ficam se atendo aos debates, seja do Judiciário, seja de impeachment de ministro do Supremo, seja de anistia...” Segundo ele, “está impossível tentar contornar situações como essa. A gente está sendo atropelado e dragado por uma mesma conversa desde a última eleição.”
O ultimato do União Brasil, que exigiu a saída de filiados com cargos no governo, ampliou a relevância de Alcolumbre. Ele tem influência sobre indicações em ministérios e agências, o que aumenta seu poder como interlocutor do Planalto nas negociações com o Centrão.
Disputa na Câmara e o “PL da Dosimetria”
Na Câmara, a aprovação da urgência da PEC da Blindagem contou com apoio de parte da bancada do PT, sob o argumento de garantir contrapartidas sociais, como a gratuidade de energia para famílias carentes. Esse movimento abriu crise interna e fortaleceu o Centrão, que conseguiu reimplantar o voto secreto em determinadas votações.
Relator do projeto de anistia, o deputado Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP) afirmou à Rádio Eldorado: “O que estamos tratando é para reduzir penas. Isso é que pode pacificar o País. Se vai reduzir para que o Bolsonaro seja liberado, aí é outra coisa. Não vou fazer projeto para afrontar o Supremo Tribunal Federal.” O texto passou a circular como “PL da Dosimetria”, numa tentativa de suavizar a proposta.
Críticas jurídicas e políticas
Para o advogado Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas, a proposta é uma aberração: “Estão fazendo uma espécie de anistia com botox. Mudaram o nome para suavizar o que não pode ser suavizado. Todos sabem que quem faz dosimetria é o Judiciário, e não o Legislativo. Chega a ser sórdido que esse acordo seja costurado por Temer, um professor de Direito Constitucional.”
No PT, a reação também foi dura. O presidente do partido, Edinho Silva, alertou: “Não podemos esquecer que havia um plano para assassinar Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Ou as lideranças políticas entendem o que de fato incomoda a população ou a pauta do Congresso, com anistia para golpista, assassinos, prerrogativas, etc, será o fermento de mobilizações que só estão começando.”
Pressão bolsonarista e cálculo eleitoral
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, declarou que não aceitará “meia-anistia” e ameaçou obstruir votações. Ele atacou Alcolumbre ao afirmar que o senador “trabalha para o Supremo” e pode perder apoio para se reeleger ao comando da Casa em 2027.
Já o deputado Rogério Correia (PT-MG) observou que o Centrão faz um cálculo político: “O Centrão precisa namorar o Bolsonaro para ver se Tarcísio herda os votos dele na eleição de 2026, mas tem medo de enfrentar o Supremo.”