Petrobras pode liderar transição para energia limpa
Petrobras destacou que vem aumentando investimentos em transição energética
247 - A Petrobras pode assumir um papel central na transição energética brasileira, segundo estudos de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Observatório do Clima (OC). De acordo com o g1, as análises defendem que a estatal precisa ampliar investimentos em novas tecnologias e diversificar seu portfólio, reduzindo a forte dependência atual do petróleo.
De acordo com os relatórios, insistir na expansão de exploração em áreas como a margem Equatorial e a Bacia de Pelotas (RS) pode gerar riscos econômicos, criando os chamados “ativos encalhados”, projetos sem retorno diante da queda do consumo global de combustíveis fósseis.
O dilema do petróleo e os riscos globais
O professor Helder Queiroz, do Instituto de Economia da UFRJ, destacou que o petróleo continuará necessário, mas exige cautela. “Ainda vamos conviver por bastante tempo com a necessidade de explorar petróleo. Trata-se de um recurso esgotável, de preço volátil, e, para garantir autossuficiência e manutenção das reservas, a exploração continuará sendo necessária”, afirmou.
Ele ressaltou também a importância de olhar para o lado da demanda. “O dilema está em como lidar com os diferentes derivados e suas possibilidades de substituição, assim como nas políticas que permitam reduzir progressivamente cada um deles”, completou.
Petrobras diante da transição energética
Embora grandes petroleiras globais, como a BP, tenham reduzido investimentos em renováveis, a Petrobras possui vantagens competitivas, especialmente pela experiência acumulada em biocombustíveis e novas tecnologias.
Entre os caminhos apontados pelos estudos estão a ampliação de biocombustíveis de segunda e terceira geração, investir em hidrogênio de baixo carbono, apostar em combustível sustentável de aviação (SAF),além de retomar a distribuição de energia com foco em veículos elétricos.
Redução de emissões e alinhamento ao Acordo de Paris
Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, defendeu mudanças estruturais. “A demanda do Observatório do Clima é que o petróleo perca progressivamente importância no portfólio da Petrobras, abrindo espaço para que a empresa avance em outras áreas de energia”, disse.
Dados indicam que 85,2% das emissões da estatal entre 2015 e 2022 vieram da queima de combustíveis, o equivalente a 421 milhões de toneladas de CO₂ em 2022 — mais que todas as emissões do Reino Unido no mesmo período.
O futuro da companhia
Carlos Eduardo Young, também professor da UFRJ, reforçou a necessidade de acelerar investimentos. “É preciso aumentar o investimento em transição energética e também em mitigação”, destacou.
Os especialistas defendem que a Petrobras alinhe sua estratégia ao Acordo de Paris, contribuindo para que o Brasil alcance a redução de 59% a 67% das emissões até 2035 e a neutralidade de carbono em 2050.
Petrobras destaca investimentos
A Petrobras destacou, em nota nesta quarta-feira (17), que vem aumentando seus investimentos em transição energética. No Plano 2025-29, estão destinados US$ 16,3 bilhões para projetos de baixo carbono, representando um crescimento de 42% em relação ao Plano Estratégico anterior e 15% do CAPEX total, a serem investidos na descarbonização de operações, na diversificação de produtos e em PD&I para iniciativas de baixo carbono.
A companhia investe fortemente em tecnologias inovadoras, com potencial de impacto no curto, médio e longo prazo. Estão previstos investimentos totais de US$ 1 bilhão em P&DI (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) em baixo carbono no quinquênio, partindo de 15% do total de P&DI em 2025 e chegando a 30% do total em 2029.
A Petrobras desenhou uma carteira diversificada e preparada para as rotas da transição energética, destinando US$ 5,7 bilhões para as energias de baixo carbono, incluindo energias eólica e solar fotovoltaica, hidrogênio e CCUS. O investimento em bioprodutos, previsto no Plano de Negócios, alcança US$ 4,3 bilhões, distribuídos da seguinte forma: US$ 2,2 bilhões para etanol, US$1,5 bilhão para biorrefino e US$0,6 bilhão para biodiesel e biometano.
Para fazer frente aos compromissos e desafios, a Petrobras tem CAPEX de US$ 5,3 bi no horizonte do PN 2025-2029 para descarbonização das suas operações, tendo como parte desse orçamento um valor de US$1,3 bilhão nos próximos 5 anos para um Fundo de Descarbonização dedicado a alavancar a implementação de oportunidades de descarbonização nos negócios. O fundo compõe a estratégia do programa carbono neutro, que é iniciativa transversal envolvendo todas as áreas de negócio da companhia. O objetivo é identificar oportunidades de mitigação de GEE, em suas diferentes frentes de atuação, utilizando a metodologia da Curva de Custo Marginal de Abatimento (MACC) para mapear as oportunidades de maior custo-efetividade.
Entre 2015 e 2024, a Petrobras reduziu em 40% as emissões de absolutas de GEE - de 78 milhões de tCO2e para 47 milhões de tCO2e, o equivalente a três vezes o setor de aviação brasileiro. Destacamos a redução de 70% das emissões de metano e a implementação de práticas de eficiência energética, modernizando instalações e processos da forma mais custo-efetiva.
O Biorrefino integra a operação atual das refinarias com soluções de produção de biocombustíveis avançados. A estratégia prevê adaptações no parque de refino (coprocessamento de biomassa com petróleo em refinarias existentes) e novas unidades capazes de transformar biomassa em produtos de alto valor agregado e 100% renováveis (Sustainable Aviation Fuel e Hydrotreated Vegetable Oils).
A carteira de investimentos em implantação do Plano de Negócios 2025-2029 da Petrobras contempla a construção, na Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão (SP), de uma unidade para produção de HVO (Diesel Renovável) e de SBC (componente sintético de mistura para produção de SAF) pela Rota HEFA (Hydroprocessed Esters and Fatty Acids), com capacidade de processamento de cerca de 950 mil toneladas de matéria-prima, gerando um potencial de produção de até 16 mil bpd de produtos renováveis, e entrando em operação em 2029.
A Petrobras planeja, ainda, atuar na produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono e seus derivados, com foco na descarbonização das operações, produtos e desenvolvimento de negócios para atendimento à demanda do mercado. No Plano de Negócios 2025-2029, destinamos investimentos de US$ 0,5 bilhão em projetos de hidrogênio.
Nesse sentido, está em avaliação um projeto de pesquisa e desenvolvimento voltado à produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono por eletrólise da água, integrado aos processos de refino de petróleo, inicialmente previsto para ser instalado em uma refinaria do Sudeste. Trata-se de uma planta piloto que tem como objetivo validar a produção de hidrogênio por eletrólise operando em conjunto com os processos de refino já consolidados. A iniciativa é pioneira no Brasil.
A Petrobras acredita que o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) pode ser uma solução prática e imediata para reduzir as emissões do setor aéreo, substituindo diretamente o querosene convencional sem necessidade de modificações nas aeronaves ou na infraestrutura de abastecimento. Recentemente, foram realizados na Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP), testes para a produção de SAF a partir do coprocessamento de óleo vegetal em mistura com querosene de aviação (QAV). O teor de óleo vegetal no produto atingiu o patamar de 1,2%, um marco fundamental na produção de combustíveis mais sustentáveis para a aviação.