Petrobras planeja oleoduto de 2 mil km até Mato Grosso
Projeto de mais de US$ 2 bi pode ligar refinaria de Paulínia a novas bases logísticas no Centro-Oeste
A Petrobras iniciou os estudos para definir o traçado de um novo oleoduto de cerca de 2 mil quilômetros entre a Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo, e um ponto ainda indefinido no estado de Mato Grosso. A informação foi divulgada pelo gerente-executivo de logística da companhia, Daniel Sales, durante o Rio Pipeline, evento promovido pelo Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás Natural (IBP) no Rio de Janeiro, e publicada pela Agência iNFRA.
Segundo a reportagem, três rotas principais estão em avaliação, e a estrutura seria inicialmente apenas de ida. Fontes da estatal afirmam que o ponto final poderá variar de Rondonópolis, ao sul do Mato Grosso, até Sinop, mais ao norte, dependendo de fatores de mercado e de questões ambientais.
Investimento bilionário e desafios de licenciamento
O projeto deve demandar investimento superior a US$ 2 bilhões, podendo chegar a até US$ 3 bilhões, de acordo com estimativas do setor. Uma das alternativas cogitadas é aproveitar áreas de servidão do Gasbol (gasoduto Bolívia-Brasil), o que reduziria o tempo de licenciamento, apontado como o maior entrave.
Se confirmada, será a primeira construção de oleoduto da Petrobras desde 1996, quando a companhia inaugurou o Osbra (Oleoduto São Paulo-Brasília), de 962 km. A entrada em operação do novo duto é prevista apenas após 2030, sem decisão final de investimento até o momento.
Estratégia logística e pressão por antecipação
Sérgio Bacci, presidente da Transpetro, subsidiária responsável pela obra, afirmou que o projeto não deve constar no próximo plano estratégico (2026-2030), mas destacou que a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, já determinou prioridade no reforço logístico para o Centro-Oeste.
Daniel Sales e Bruno Ebecken, gerente-executivo da Transpetro, não descartam antecipar a obra. “O mercado [de combustíveis] do Centro-Oeste vem crescendo a taxas de crescimento da China, 8%, 10%, 11% ao ano. E um mercado maduro, com essa demanda e crescimento grande, requer logística madura. Isso envolve mais confiabilidade, redução de custos e maior economia [na comparação com outros modais], todos estes fatores que o duto traz com ele”, destacou Ebecken.
Substituição do transporte rodoviário e ferroviário
Atualmente, a Petrobras reforça sua logística para a região com o uso de caminhões e trens. Desde 2023, a companhia abriu bases de distribuição em Rondonópolis (MT) e Rio Verde (GO), além de firmar contrato com a Rumo para ampliar o transporte ferroviário. O novo oleoduto, portanto, pretende substituir de forma definitiva esse modelo multimodal.
Potencial de expansão e retorno logístico
O setor de etanol de milho do Centro-Oeste já pressiona por um duto em sentido contrário, para escoar biocombustíveis ao Sudeste. Segundo Ebecken, essa realidade já gera desequilíbrio logístico: “A produção de etanol de milho já é muito alta, tem perenizado a produção de etanol no Centro-Oeste. Os volumes de produção de etanol já são maiores que os volumes consumidos de derivados fósseis. O que ‘desce’ de etanol do Centro-Oeste já é maior que o que sobe de derivados, e isso já é uma ineficiência logística, porque já não se consegue fazer o par completo”.