Brasil projeta liderança global ao colocar oceano no centro da ciência e inovação
Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2025 terá foco na cultura oceânica e na luta contra as mudanças climáticas
247 - O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) está ampliando o protagonismo do oceano nas políticas públicas brasileiras, transformando o tema em prioridade estratégica para a ciência e a inovação. A iniciativa ganha destaque na 22ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que ocorrerá entre 21 e 26 de outubro em todo o país, com expectativa de reunir mais de 100 mil pessoas em mais de 70 eventos já confirmados.
A SNCT 2025 adota como tema “Planeta Água: Cultura Oceânica para Enfrentar as Mudanças Climáticas no Meu Território”. A proposta busca popularizar o conhecimento científico e aproximar a sociedade da importância dos mares, em um momento em que o Brasil se coloca como referência internacional em cultura oceânica.
Cultura oceânica como estratégia contra a crise climática
A pauta marítima é conduzida no MCTI pela Secretaria de Políticas e Programas Estratégicos, em conjunto com a Coordenação-Geral de Ciências para Oceano e Antártica. O diretor do Departamento de Programas Temáticos, Leandro Pedron, ressalta que a compreensão do papel do oceano é essencial para transformar conhecimento em ação.
“Para o Brasil, esse conceito se torna estratégico no enfrentamento das mudanças climáticas porque transforma ciência em cultura ativa: não basta saber que o oceano absorve calor ou carbono, é fundamental que a sociedade compreenda esse papel, valorize práticas que protejam essa função, inclusive por meio de políticas públicas e comportamentos cotidianos”, destacou.
Segundo dados do relatório Fragmentos da Destruição: Impacto do Plástico à Biodiversidade Marinha (2024), o Brasil despeja cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico no mar todos os anos, ocupando o oitavo lugar entre os países que mais poluem os oceanos.
Reconhecimento internacional e o "Currículo Azul"
O esforço brasileiro também repercute no cenário global. Em abril de 2025, a Unesco reconheceu o Brasil como o primeiro país do mundo a inserir oficialmente a Cultura Oceânica no currículo escolar nacional, com o projeto Currículo Azul.
Para Pedron, a medida representa um divisor de águas: “Esse é um marco para aproximar ciência e educação, transformando conhecimento em cidadania. O Currículo Azul garante que desde a infância se compreenda a relevância do oceano para a vida, para o clima e para a economia”.
Além disso, em 2027, o Rio de Janeiro sediará a Conferência da Década da Ciência Oceânica, reforçando a posição do país como referência no tema.
Antártica e ciência de fronteira
Outro destaque é a atuação do Brasil no continente gelado por meio do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). O projeto integra missões internacionais, como a investigação promovida em 2024 em parceria com a Agência Internacional de Energia Atômica e o Instituto Antártico Argentino, que analisou a presença de microplásticos em águas, sedimentos e até nas fezes de pinguins.
Criado no fim da década de 1970 e ativo desde 1982, o Proantar consolidou a participação brasileira no Tratado da Antártica, permitindo ao país integrar decisões estratégicas sobre a preservação do continente e do oceano Austral.
Economia azul e inovação tecnológica
A valorização do oceano também se conecta à Economia Azul, que movimenta entre US$ 3 trilhões e US$ 6 trilhões por ano no mundo, envolvendo desde a pesca e o turismo até transporte marítimo e energia renovável. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que o oceano garante a subsistência de 600 milhões de pessoas no planeta.
No Brasil, a aposta é em soluções tecnológicas, educação e inovação. “De novos materiais que reduzem a poluição plástica a sistemas de monitoramento que protegem nossas ilhas oceânicas e costeiras. A implementação dessa agenda no Brasil coloca o País na vanguarda de uma ciência voltada ao bem-estar coletivo”, afirmou Pedron.
Oceano como fio condutor da vida
Ao destacar a relevância da vida marinha, Pedron reforçou que “sem azul, não há verde”. O oceano influencia diretamente a produção de alimentos, a geração de energia, o transporte marítimo e até o ciclo das chuvas que irrigam as lavouras.
Com o fortalecimento de programas como a Cultura Oceânica, o Brasil busca consolidar um modelo em que ciência, educação e políticas públicas se unem para enfrentar a crise climática e proteger o planeta.