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      Marcelo Zero

      É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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      O Brasil não pode ser “colônia mineral” dos EUA

      A intenção de Trump é, provavelmente, a de que o Brasil renuncie à gestão estratégica dessas reservas

      Instalações de mineração de lítio no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais (Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG)

      Ante as especulações que estão surgindo de que o Brasil poderia negociar o fornecimento de minerais críticos aos EUA para superar o episódio das absurdas sanções comerciais/políticas impostas ao nosso país, é preciso informar que o governo Lula está trabalhando numa Política Nacional de Minerais Críticos, a qual deverá sair ainda este ano.

      Tal política baseia-se no pressuposto de que esses minerais (lítio, nióbio, cobalto, terras-raras etc.) são absolutamente estratégicos para desenvolver a “indústria do futuro” (veículos elétricos, baterias, chips, semicondutores, novas turbinas, novas ligas metálicas, ímãs, radares, drones, novos satélites etc.).

      O desenvolvimento da chamada “inteligência artificial”, por exemplo, passa pela disponibilidade e processamento desses minerais.

      O Brasil quer desenvolver novas indústrias “verdes”, baseadas nesses produtos. Esses minérios são vitais para a chamada “neoindustrialização”, na qual o Brasil está fortemente empenhado.

      Por conseguinte, é necessária uma soberana gestão estratégica desses recursos preciosos e definidores de futuro, a qual será definida na Política Nacional de Minerais Críticos.

      Todo o mundo sabe disso. Na última reunião do G7, foi destacado que esses minerais críticos são vitais para a “segurança nacional”.

      Os EUA, por exemplo, usam terras-raras para fabricar armamentos de ponta, como o caça F-35, drones e submarinos, entre outras plataformas militares estratégicas.

      O Brasil, destaque-se, tem a segunda maior reserva do mundo desses minerais. Perde apenas para a China.

      Obviamente, o Brasil não pode reviver o passado colonial, exportando apenas minério bruto e importando a tecnologia pronta a um preço alto.

      Exportar nossas reservas desses minerais, que sequer foram ainda plenamente mapeadas, sem processá-las e utilizá-las no desenvolvimento da nossa própria indústria, seria um crime.

      E não é apenas o governo que está empenhado nesse esforço estratégico. O Senado já analisa o oportuno projeto do senador Rogério Carvalho, do PT de Sergipe, que obriga o beneficiamento de terras-raras em território nacional.

      Trump conseguiu que a China aliviasse suas restrições às exportações de terras-raras para os EUA. Mas isso não veio de graça. Os EUA tiveram de rever suas restrições ao envio de chips para a China e permitir a presença massiva de estudantes chineses nos EUA, entre outras coisas.

      Ademais, os chineses mantiveram as restrições para exportações destinadas à indústria de Defesa dos EUA.

      Considere-se, adicionalmente, que a China normalmente processa esses minerais antes de exportá-los. Tanto é assim que as restrições aliviadas se referiam também a ímãs e outros materiais magnéticos já processados.

      Contudo, suspeitamos que Trump queira tratar o Brasil como tratou a Ucrânia ou como pretende tratar a Groenlândia/Dinamarca.

      A intenção de Trump é, provavelmente, a de que o Brasil renuncie à gestão estratégica dessas reservas e abra esses recursos para a livre exploração das empresas dos EUA.

      Se for isso, seria um novo atentado à nossa soberania, muito semelhante ao já cometido com a ameaça das absurdas sanções comerciais de 50%, feita por motivos políticos torpes e claras razões geopolíticas.

      O Brasil não será colônia mineral de ninguém.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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