A lassidão de Hugo Motta e sua voz modorrenta e sem comando
Todos os deputados que ocuparam o plenário da Câmara de forma arbitrária devem ter os seus mandatos suspensos, defende o colunista Ricardo Nêggo Tom
O tom do discurso feito por Hugo Motta na retomada dos trabalhos legislativos, após a ocupação do plenário pela gangue do esparadrapo, não harmonizou com a extensão vocal que se espera de um presidente da Câmara dos Deputados. Na música, costuma-se chamar de “barítono preguiçoso” o sujeito que evita atingir notas mais altas na escala melódica — que o elevaria à condição de tenor — mesmo tendo condições vocais para tal. A região onde Motta colocou sua voz durante o pronunciamento — permeado por um “pisar em ovos” — pode ter sido a mais cômoda para ele naquele momento, mas não fez com que sua fala brilhasse como deveria. Ficou confortável para o “cantor”, mas não soou agradável para os ouvintes que esperavam um pouco mais de sua apresentação.
Para piorar, Hugo Motta parece ter sinalizado a possibilidade de pautar a anistia para os criminosos golpistas do 8 de janeiro, sob o argumento de que “não tem preconceito com nenhuma pauta”. Uma forma diplomática e regimental de ser lasso diante da horda bolsonarista que fechou o Congresso por dois dias. É aí que o “cantor” desafina, por entoar a melodia em um registro que não é o seu. O que se viu na apresentação do coro dos descontentes com a prisão domiciliar do maestro do golpe, Jair Bolsonaro, foi um misto de ópera bufa e funk proibidão, onde o cômico e o criminoso evoluíam harmonicamente no recital ideológico bolsonarista. Solos de cafajestice — como o executado pelo tenor, digo, terror, deputado Zé Trovão, que colocou sua quilométrica perna à frente de Hugo Motta para impedi-lo de acessar seu lugar no “concerto” — não podem ser interpretados apenas como improviso. Até porque a “partitura” da peça golpista já havia sido escrita previamente.
O que dizer das deputadas conservadoras Chris Tonietto e Bia Kicis, que combinaram de colocar as sopranos na linha de frente da “orquestra”, para constranger a Polícia Legislativa a retirá-las do plenário? Imaginem se essa estratégia fosse utilizada por deputadas de esquerda. Certamente estariam sendo criticadas por se utilizarem do fato de serem mulheres para acusar os policiais de machismo e misoginia ao abordá-las. Mas a extrema direita pode tudo. Pode até usar um bebê de quatro meses como escudo, como fez a deputada Júlia Zanatta com a própria filha. A moça que usa uma guirlanda de Natal na cabeça é muito mais perigosa do que possa imaginar nosso vão conhecimento sobre o bolsonarismo. E esse episódio nos mostra que suas loucuras e devaneios vão muito além de organizar protestos antivacina ou querer transformar Criciúma na capital do arroz-doce.
Não sei se Hugo Motta já sabe, mas Sóstenes Cavalcante — o chefe da gangue do esparadrapo — revelou que o autor da ideia ocupacionista no Congresso Nacional foi o deputado Marco Feliciano, um pastor evangélico que deve ter causado inveja a muitos líderes de grupos terroristas. O pastor parlamentar recebeu um agradecimento especial por parte de Sóstenes, que também revelou que a trama foi arquitetada durante uma reunião na sede do PL, em Brasília. Algo que deveria fazer com que o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, fosse responsabilizado criminalmente pela invasão do Congresso. Mas será que Hugo Motta deixará de lado sua modorrenta vocalização e soltará aquele dó de peito que faz a plateia ir ao delírio? Tenho dúvidas. E elas aumentam ao saber de informações dando conta de que Arthur Lira foi quem teria costurado o acordo de desocupação do palco da casa de lupanar que os bolsonaristas abriram na Câmara — com todo respeito às parlamentares do sexo.
Motta parece não ter força nem experiência políticas suficientes para administrar uma rebelião no presídio bolsonarista. Os revoltosos faccionados da galeria do mito o fizeram de refém por dois dias, sem que ele desse um pio sequer mais alto em defesa do restabelecimento da ordem. Ao contrário de Davi Alcolumbre, presidente do Senado, que deixou claro que, nem se os 81 senadores assinarem a abertura do processo de impeachment contra Alexandre de Moraes, ele pautará o despautério, Motta sinaliza estar disposto a atender aos desmandos da bancada bolsonarista, sob a égide da pacificação do país e da defesa da democracia. Um gesto covarde diante dos absurdos protagonizados por deputados que se comportaram como integrantes de uma facção criminosa — com o perdão do pleonasmo. Motta ficará completamente desmoralizado se não concretizar a suspensão de mandato que esboçou aplicar contra esses deputados, e perderá a credibilidade que já não tinha junto à população. Está na hora de ele provar, pelo menos, que não é um frouxo.
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