Petro diz que Trump está irritado porque a Colômbia rejeita invasão da Venezuela
Presidente colombiano diz que tarifas dos EUA violam acordo de livre comércio e exige retirada imediata das barreiras
247 - O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que as acusações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que ele estaria ligado ao narcotráfico, são falsas e motivadas pela recusa de Bogotá em apoiar uma ofensiva militar contra a Venezuela. As declarações foram feitas em entrevista ao jornalista Daniel Coronell, em meio ao aumento das tensões bilaterais.
Segundo a reportagem publicada pela Telesur, Petro ressaltou que sua posição é de defesa da soberania regional e de rejeição a qualquer tentativa de agressão a Caracas. “O senhor fica furioso, Sr. Trump, por eu não apoiar os americanos e o exército colombiano na invasão da Venezuela. Não, senhor. Que colombiano estúpido pensaria em ajudar a invadir onde estão seus primos, seus filhos, seus quatro milhões de colombianos, para que possam ser mortos como em Gaza?”, disse.
Defesa da soberania e crítica à política externa dos EUA
O presidente colombiano destacou que o pensamento bolivariano sempre esteve contrário à subserviência diante de Washington. “Bolívar nunca quis uma relação de subserviência aos Estados Unidos. Eu sou bolivariano”, declarou, reforçando sua recusa a abrir caminho para uma intervenção militar na região.
Petro também criticou a política externa norte-americana, classificando-a como uma repetição de violações históricas ao direito internacional. “Assim como eles violaram todos os tratados internacionais sobre direitos humanos, construídos por uma sabedoria tal que os Estados Unidos são o ator principal”, afirmou.
Tarifa sobre exportações e tensões comerciais
Um dos pontos mais duros da entrevista foi a crítica ao aumento de tarifas imposto pelo governo Trump sobre exportações agrícolas colombianas, medida que, segundo Petro, viola o Tratado de Livre Comércio (TLC) firmado em 2012. “Ele não deveria ter imposto nenhuma tarifa, porque havia um Acordo Internacional de Livre Comércio entre os Estados Unidos e a Colômbia que ele violou”, enfatizou.
O mandatário anunciou ainda que convocará o encarregado de negócios dos EUA para uma reunião, além de ter chamado de volta a Bogotá o embaixador colombiano em Washington, Daniel García-Peña. “Não vou conceder; vou exigir. “Retirem a tarifa de oito por cento das exportações. Se quisermos acabar com a cocaína, o campesinato deve ter acesso a terras férteis”, disse, defendendo a substituição de cultivos ilegais por meio de parcerias com empresas norte-americanas.
Narcotráfico, fentanil e desigualdade no campo
Na entrevista, Petro fez críticas duras à política antidrogas conduzida pelos Estados Unidos, que, segundo ele, transformou-se em um mecanismo de dominação. “Matam 1 milhão de latino-americanos e não diminuiu um grama de cocaína na demanda dos Estados Unidos, que também cresce na Europa” afirmou.
O presidente rejeitou o discurso de que a Colômbia seria a principal responsável pela inundação de cocaína no mundo. “Não é certo que estejamos inundados de cocaína, não é certo que estejamos inundando o mundo de cocaína. O mundo "está se enchendo, primeiro nos Estados Unidos, de fentanil que é 30 vezes pior"”, ressaltou.
Relações com Biden e comparação com Trump
Petro ainda comparou sua relação com diferentes governos norte-americanos. “Falei diretamente com o ex-presidente Biden e, através de enviados, com Trump. As atitudes foram diferentes - decente com Biden, grosseira e ignorante com Trump”, disse, ressaltando a disparidade de tratamento diplomático.
Ele também defendeu que o TLC deveria ter sido negociado levando em consideração os interesses do campesinato colombiano.
As declarações de Gustavo Petro marcam mais um capítulo de atrito com Washington e ampliam o debate sobre os impactos da política antidrogas e dos acordos comerciais na América Latina.


