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Diplomacia brasileira pede cautela em meio à crise entre EUA, Colômbia e Venezuela

Escalada de tensões na região preocupa o Itamaraty e pode afetar negociações entre Brasil e Estados Unidos

Palácio do Itamaraty (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

247 - O governo brasileiro acompanha com crescente apreensão a escalada de tensões entre os Estados Unidos e países vizinhos da América Latina, como Colômbia e Venezuela. Para diplomatas em Brasília, a instabilidade regional não representa apenas um risco territorial, mas também ameaça desorganizar o ambiente político e econômico em que o Brasil busca negociar diretamente com Washington, aponta o portal G1.

A preocupação central é que a tensão entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e governos latino-americanos atrapalhe um momento crítico nas relações bilaterais. O Brasil tenta avançar nas conversas com a Casa Branca para discutir o pacote de tarifas imposto por Trump, que elevou em 50% os custos sobre produtos brasileiros exportados aos EUA desde agosto. O Planalto avalia que o clima de hostilidade dificulta a construção de pontes políticas necessárias para um entendimento.

Negociações delicadas

Na última quinta-feira (16), o chanceler Mauro Vieira se reuniu em Washington com o secretário de Estado, Marco Rubio. O encontro resultou na decisão de realizar, nos próximos dias, uma reunião técnica virtual entre negociadores brasileiros e autoridades norte-americanas. Diplomatas ressaltam que esse processo precisa ser blindado dos efeitos das tensões regionais, sob risco de comprometer o diálogo.

O contato mais direto entre Lula e Trump começou a se desenhar ainda em setembro, quando os dois se encontraram nos bastidores da Assembleia Geral da ONU. Dias depois, mantiveram uma conversa telefônica de 30 minutos, em que discutiram o tarifaço e a possibilidade de uma reunião presencial ainda este ano.

Ofensiva de Trump contra vizinhos do Brasil

No domingo (19), Trump chamou o presidente colombiano, Gustavo Petro, de “traficante de drogas ilegal” e acusou seu governo de incentivar a “produção massiva” de entorpecentes. O presidente americano ameaçou cortar “pagamentos e subsídios em larga escala” à Colômbia e advertiu que, se Bogotá não encerrar as operações ligadas ao narcotráfico, “os Estados Unidos as encerrarão por ele, e não será feito de forma gentil”.

Horas antes, Petro havia acusado Washington de assassinato após um ataque americano no Caribe contra embarcações que os EUA ligam a grupos criminosos. A tensão se agravou ainda mais porque Trump confirmou ter autorizado operações secretas da CIA em território 

Os Estados Unidos classificaram o chamado Cartel de los Soles — que, segundo Trump, seria liderado por Maduro — como organização terrorista internacional.

O governo venezuelano tem mantido uma posição ativa de resistência às ameaças bélicas dos Estados Unidos.

Brasil em posição estratégica

Auxiliares de Lula afirmam que o presidente brasileiro pretende levar um tom de alerta em sua conversa com Trump. O recado será claro: uma intervenção militar americana na Venezuela teria efeito desestabilizador em toda a região. 

Para diplomatas do Itamaraty, o Brasil precisa equilibrar sua postura com cautela, evitando alinhar-se automaticamente a qualquer lado e preservando espaço para negociações comerciais diretas. “Há, no horizonte, muitas tentativas externas de pautar agendas paralelas e atrapalhar a relação bilateral. Tem muita espaçonave desgovernada no caminho, e a presença dos chefes de Estado, o quanto antes, é fundamental para impedir qualquer interferência”, disse uma fonte.

Encontro em 2025

O Planalto e o Itamaraty trabalham com a possibilidade de que Lula e Trump se encontrem ainda em 2025. A agenda é considerada prioridade porque um diálogo em alto nível poderia dar rumo às negociações comerciais. Nesta terça-feira (21), Lula embarca para a Malásia, onde participará da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), e a viagem pode abrir espaço para uma reunião bilateral.

Fontes do governo brasileiro afirmam que também há interesse da Casa Branca em viabilizar o encontro o mais rápido possível. A avaliação em Brasília é de que só uma reunião direta entre os dois presidentes pode reduzir a incerteza criada pelo ambiente de tensão e recolocar o diálogo no centro da relação bilateral.

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