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Argentina intensifica venda de dólares para sustentar o peso

Governo argentino já queimou US$ 1,8 bi em sete sessões e tenta evitar desvalorização antes das eleições

Um cliente conta notas de peso argentino antes de pagar em um supermercado, em Buenos Aires, Argentina, em 13 de janeiro de 2025 (Foto: REUTERS/Agustin Marcarian)

247 - As taxas de juros de curto prazo na Argentina dispararam nesta quarta-feira (8) em meio à ofensiva do governo de Javier Milei para defender o peso. De acordo com a Bloomberg, o Tesouro argentino vendeu dólares pelo sétimo dia consecutivo, injetando ao menos US$ 320 milhões no mercado, numa tentativa de conter a pressão cambial que ameaça a estabilidade econômica do país.

Os rendimentos dos títulos Lecap, com vencimento em 28 de novembro, saltaram para 87%, frente a 74% na véspera e 51% no fim da semana passada. O movimento ocorre em um cenário de forte restrição de liquidez e crescente especulação sobre uma inevitável desvalorização do peso.

Intervenção sem precedentes

O governo tem atuado em múltiplas frentes: retomou controles cambiais, intensificou vendas no mercado futuro e utilizou recursos do Tesouro para conter a queda da moeda. Só nos últimos sete pregões, essas operações somaram cerca de US$ 1,8 bilhão. O Banco Central, que já gastou US$ 1,1 bilhão em reservas no mês passado, só pode intervir diretamente se a moeda romper a banda de flutuação definida no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Para analistas, o ritmo das vendas evidencia o caráter insustentável do atual regime cambial. “O mercado parece precificar uma mudança no sistema de câmbio logo após as eleições, o que aumenta a pressão sobre o peso conforme a data se aproxima”, afirmou Santiago Resico, economista da corretora one618.

Eleições e risco político

Milei resiste à desvalorização porque teme o impacto inflacionário às vésperas das eleições legislativas de 26 de outubro, quando metade da Câmara dos Deputados será renovada. O presidente busca ampliar apoio no Congresso para aprovar suas reformas de viés liberal.

No entanto, a crise econômica, derrotas políticas regionais e denúncias de corrupção contra aliados fragilizam sua base. Mesmo com a expectativa de conquistar entre 34% e 37% dos votos, segundo relatório do Barclays, Milei deve manter poder de veto e governar por decreto. O problema é que a Câmara discute uma proposta para restringir esse mecanismo, o que pode limitar sua margem de manobra.

Pressão dos mercados

A instabilidade também se reflete nos títulos soberanos. Após forte alta na segunda-feira, os papéis com vencimento em 2035 recuaram no dia seguinte diante da continuidade das vendas de dólares. A volatilidade só arrefeceu após a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, declarar à Reuters que uma nova ajuda ao país deve ser anunciada em breve.

Investidores, no entanto, já antecipam que o governo terá de abandonar as intervenções. “Os mercados querem que eles desvalorizem a moeda e permitam um câmbio totalmente flutuante. Sem bandas, sem intervenção. Isso vai acontecer de uma forma ou de outra”, afirmou David Austerweil, gestor de portfólio da VanEck, em Nova York.

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