Líderes latino-americanos divergem sobre condenação de Bolsonaro; Milei permanece em silêncio
Chile e Colômbia defendem decisão do STF; Bolívia denuncia ingerência dos Estados Unidos e Argentina adota cautela política
247 - A condenação de Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) provocou reações distintas em países da América Latina. Segundo a RFI, governos de esquerda se manifestaram em defesa da democracia brasileira, enquanto setores aliados ao ex-mandatário optaram pelo silêncio ou criticaram a postura de Washington diante do caso.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, destacou a força das instituições brasileiras ao comentar a sentença. “Os meus respeitos à democracia brasileira que resistiu a uma tentativa de golpe e hoje julga e condena os seus responsáveis. Tentaram destruí-la e hoje sai fortalecida. Democracia sempre”, escreveu o líder chileno na rede X. A manifestação acontece em meio ao clima de polarização que marca as eleições presidenciais no Chile, marcadas para 16 de novembro.
Petro sobe o tom contra Bolsonaro
Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro foi mais incisivo e relacionou diretamente a condenação ao papel de Bolsonaro na tentativa de golpe. “Todo golpista deve ser condenado. São as regras da democracia”, afirmou em publicação logo após o anúncio da sentença de 27 anos e três meses de prisão. Petro também aproveitou para responder ao senador norte-americano Marco Rubio, que classificou o julgamento como uma “caça às bruxas”.
O líder colombiano, crítico contumaz de Bolsonaro desde os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, já havia se posicionado em outras ocasiões. Em julho de 2024, quando o ministro Alexandre de Moraes determinou que Bolsonaro usasse tornozeleira eletrônica, Petro afirmou que “faz-se justiça no Brasil em relação a um fascista. O fascismo não é ideologia; é crime”.
Críticas a Washington
As reações também atingiram os Estados Unidos. Petro comparou a situação brasileira ao julgamento de Nuremberg, após a Segunda Guerra Mundial, questionando se prender líderes nazistas teria representado ataque à liberdade de expressão. O comentário foi uma resposta direta à porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, que reiterou a posição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre priorizar a liberdade de expressão e defender esse princípio inclusive com “poder econômico e militar”.
Na Bolívia, o presidente Luis Arce acusou Washington de interferência. “Rejeitamos as declarações intervencionistas dos Estados Unidos contra o Brasil. Ameaçar com o uso do poder econômico e militar, sob o pretexto de defender a liberdade de expressão em favor de Bolsonaro, constitui uma intromissão colonialista e inaceitável nos assuntos internos de uma nação soberana, além de violar o Direito Internacional”, declarou. Arce reforçou ainda que “o Brasil é um país livre e soberano” e que a América Latina deve ser preservada como “uma zona de paz”.
Silêncio em Buenos Aires
Na Argentina, o presidente Javier Milei, aliado e amigo de Bolsonaro, evitou declarações públicas sobre a condenação. Analistas apontam que a decisão está ligada ao revés político que Milei sofreu na província de Buenos Aires, onde foi derrotado por mais de 13 pontos percentuais. Uma manifestação de apoio a Bolsonaro poderia ampliar seu desgaste em um momento de instabilidade interna.
Vale lembrar que, em julho de 2024, Milei havia participado de um evento da extrema-direita em Camboriú, Santa Catarina, ao lado de Bolsonaro, quando disse: “Vejam a perseguição judicial que o nosso amigo Jair Bolsonaro sofre aqui no Brasil”. Desta vez, no entanto, preferiu o silêncio.
Condenação histórica no Brasil
A decisão do Supremo Tribunal Federal representou um marco na história recente do país. Bolsonaro foi condenado por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio público.
Entre os oito condenados, o ex-presidente recebeu a pena mais severa, 27 anos e três meses de prisão, por ser considerado o líder da conspiração que buscava impedir a posse de Lula após a vitória nas eleições de 2022.