EUA enviam caças F-35 ao Caribe em meio à tensão com Venezuela
Governo Trump reforça presença militar no Caribe, elevando pressões contra Nicolás Maduro e ampliando risco de confronto regional
247 - Os Estados Unidos enviaram dez caças F-35 para Porto Rico, ampliando a presença militar no sul do Caribe e aumentando a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela. A operação faz parte da estratégia do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que justificou a medida como parte do combate ao narcotráfico latino-americano.
Segundo a Reuters, os jatos devem chegar à ilha até o fim da próxima semana, juntando-se a sete navios de guerra, um submarino nuclear e aviões espiões já posicionados na região. Autoridades americanas disseram que os F-35 foram designados para atuar contra organizações classificadas por Washington como “narco-terroristas”.
O envio das aeronaves ocorre dias após uma ação dos EUA contra uma embarcação que, segundo Trump, transportava drogas a partir da Venezuela. O ataque deixou 11 mortos e foi interpretado por analistas como um sinal de que Washington pode sustentar operações militares na América Latina.
A escalada ficou ainda mais evidente nesta quinta-feira (4), quando dois caças venezuelanos sobrevoaram o destróier norte-americano USS Jason Dunham no Caribe. O Pentágono classificou o ato como “altamente provocativo” e disse que Caracas tentou interferir em operações contra o narcotráfico.
Em comunicado, o Departamento de Defesa advertiu que “o cartel que controla a Venezuela é fortemente advertido a não tentar, de nenhuma forma, obstruir, dissuadir ou interferir nas operações de combate ao narcotráfico e ao terrorismo conduzidas pelas forças militares dos Estados Unidos”.
Trump também relacionou o ataque naval da semana à facção criminosa Tren de Aragua, considerada terrorista pelos EUA. O presidente estadunidense acusou Maduro de chefiar o grupo, além de responsabilizá-lo por “assassinatos em massa, tráfico de drogas, tráfico sexual e atos de violência e terror nos Estados Unidos”.
Washington ainda associa Maduro ao Cartel de los Soles, apontado como uma rede que articula militares e políticos venezuelanos no tráfico internacional de drogas. Especialistas, contudo, avaliam que o grupo não tem comando centralizado, mas atua como uma malha de conexões lucrativas.
Em pronunciamento no início desta semana, Nicolás Maduro afirmou que a Venezuela está pronta para resistir a qualquer agressão. “Se a Venezuela for atacada, passaria imediatamente ao período de luta armada em defesa do território nacional, da história e do povo venezuelano”, declarou o presidente. Ele classificou o envio das forças americanas como “a maior ameaça à América Latina do último século”.
Caracas vem mobilizando tropas e milicianos para reforçar as defesas diante da possibilidade de um ataque. Enquanto isso, a Casa Branca mantém cautela sobre os objetivos militares. A porta-voz Karoline Leavitt afirmou apenas que o governo Trump usará “toda a força” contra Maduro.
Analistas consultados pelo g1 consideram desproporcional o volume de armamentos enviados sob a justificativa de combate ao narcotráfico. O professor Carlos Gustavo Poggio, do Berea College (EUA), destacou que “se você olhar o tipo de equipamento que foi enviado para a Venezuela, não é um equipamento de prevenção ou de ação contra o tráfico, ou contra cartéis”.
Na mesma linha, o cientista político Maurício Santoro, do IUPERJ, comparou o atual movimento militar com a escalada no Oriente Médio meses atrás: “O volume de recursos militares que os Estados Unidos transferiram para o Caribe são indicações de que eles estão falando sério”, disse.