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Equador será 'laboratório' dos EUA para expandirem sua segurança nacional na América Latina

Washington planeja instalar bases do Departamento de Segurança Nacional no país andino

Daniel Noboa em Santa Elena, Equador - 13/4/2025 (Foto: REUTERS/David Diaz Arcos)

247 – O governo do Equador confirmou que os Estados Unidos estão analisando locais para instalar unidades do Departamento de Segurança Nacional (DHS, na sigla em inglês) no território equatoriano. A informação foi divulgada pela Sputnik Brasil, que entrevistou especialistas sobre os impactos dessa decisão e o papel que Quito pode desempenhar na estratégia de Washington na América Latina.

Segundo o governo de Daniel Noboa, a secretária de Segurança Nacional dos EUA, Kristi Noem, deverá visitar o país ainda em outubro para “definir já a localização das bases” de sua pasta. Embora o presidente equatoriano aguarde até 16 de novembro, quando será realizado um referendo sobre a autorização de bases militares estrangeiras, o processo de cooperação com os EUA já está em curso.

Uma novidade fora das fronteiras dos EUA

A iniciativa não envolve o Pentágono nem o Comando Sul, mas o DHS, órgão criado após os atentados de 11 de setembro de 2001 com o objetivo de coordenar agências de segurança interna dos EUA. Hoje, o departamento reúne 22 instituições, como a Guarda Costeira, o Serviço Secreto, a Imigração e o Controle de Alfândega.

“O diferencial desse tipo de base é que são menores do que as tradicionais, mas funcionam em rede, aproveitando a infraestrutura militar e de segurança local”, explicou à Sputnik a mestre em Estudos Latino-Americanos e pesquisadora do Observatório do Lawfare, Tamara Lajtman. Ela comparou a iniciativa com os chamados Forward Operating Locations (FOLs), instalados em El Salvador e Curaçao, mas ressaltou que o caso equatoriano tem caráter civil, o que abre um novo precedente.

Críticas e alertas sobre violações de direitos

Para o analista político Decio Machado, trata-se de um movimento preocupante. “Esse é um órgão do governo norte-americano que, nas últimas duas décadas, assumiu um poder imenso dentro da estrutura estatal dos EUA”, afirmou.

Segundo ele, o DHS se tornou “a agência de segurança com o maior número de violações aos direitos civis nos EUA”, com acusações de espionagem, interceptação de comunicações e perseguição a lideranças sociais. “Sob o pretexto de combater o narcotráfico, estão sendo implantados mecanismos de controle sobre as dissidências políticas”, alertou.

Machado também sugeriu que o presidente Noboa pode usar essa cooperação para vigiar opositores internos. “Isso seria um experimento, um laboratório para fazer o mesmo em outros países latino-americanos”, afirmou, mencionando ainda a possibilidade de acordos semelhantes com aliados de Washington, como a Argentina.

O interesse estratégico nas Ilhas Galápagos

A pesquisadora Tamara Lajtman destacou que não se pode dissociar esse movimento do interesse dos EUA nas Ilhas Galápagos, território equatoriano de importância geopolítica no Oceano Pacífico. Ela lembrou que em março de 2025 o embaixador dos EUA no Equador, Art Brown, visitou o arquipélago e reforçou a necessidade de acordos de segurança, após a permissão inédita para entrada de navios de guerra norte-americanos sob a justificativa de combate ao narcotráfico.

Para Lajtman, a disputa global com a China torna as ilhas ainda mais estratégicas, tanto para “defesa hemisférica” — em torno do Canal do Panamá e do corredor transístmico — quanto para funções ofensivas de vigilância das rotas rumo ao Pacífico Sul. “O que vemos é um projeto de criar um polo de segurança no Pacífico”, concluiu.

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