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Brasil e Bolívia avançam em integração com nova ponte binacional após mais de um século de espera

Estrutura de R$ 421 milhões vai ligar Guajará-Mirim a Guayaramerín e deve beneficiar 180 mil pessoas na fronteira

Cidades de Guajará-Mirim, em Rondônia, e Guayaramerín, que pertence ao departamento boliviano de Beni (Foto: Vinicius Trindade/Ministério dos Transportes)

247 - Após mais de um século de espera, brasileiros e bolivianos finalmente verão concretizada a promessa feita em 1903, durante a assinatura do Tratado de Petrópolis. Nesta sexta-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro dos Transportes, Renan Filho, assinaram em Rondônia a ordem de serviço para a construção da ponte binacional que ligará Guajará-Mirim (RO) e Guayaramerín, no departamento boliviano de Beni. A informação é do Ministério dos Transportes.

O investimento federal será de R$ 421,398 milhões, com previsão de entrega em até três anos. Segundo o governo, a obra beneficiará aproximadamente 180 mil pessoas — entre moradores das cidades gêmeas, comunidades vizinhas e trabalhadores que circulam pela região conectada pelas BRs 425 e 421.

Integração histórica e política

O presidente Lula ressaltou o caráter transformador do projeto: “Governar não é apenas fazer obras, é transformar a vida das pessoas”. Já o ministro Renan Filho afirmou que “o tempo da espera acabou”, lembrando que a ponte foi incluída no Novo PAC para garantir sua execução. “Enquanto alguns constroem muros e separam pessoas, nós trabalhamos para construir pontes, promover a integração e melhorar a vida de quem mais precisa”, disse.

Presente à cerimônia, o presidente boliviano Luis Arce celebrou o caráter simbólico e estratégico da iniciativa: “Esta obra vai muito além da infraestrutura; é um símbolo da integração e da irmandade entre nossos povos”.

Fim da travessia precária

Atualmente, a travessia pelo rio Mamoré é feita por balsas, com longas esperas e riscos para quem viaja à noite. A estudante de medicina Roberta Alessandra, que cruza diariamente entre os dois países, explicou que a ponte dará mais segurança e agilidade: “Se tivesse a ponte, facilitaria muito, porque aí a pessoa poderia vir de bicicleta, carro, moto”.

O impacto também será significativo no transporte de cargas. De acordo com o inspetor-chefe da Receita Federal em Guajará-Mirim, José Alexandre, cerca de 1.500 pessoas cruzam a fronteira diariamente e cerca de 20 mil toneladas de mercadorias passam pela região anualmente. O caminhoneiro boliviano Harib Alcocon relatou que problemas mecânicos nas balsas já o obrigaram a permanecer um dia inteiro parado.

Corredor interoceânico

O prefeito de Guajará-Mirim, Fábio Garcia de Oliveira, destacou que a ponte integrará o eixo de desenvolvimento interoceânico, conectando Brasil, Bolívia, Chile, Peru e Ásia, o que pode reduzir em até 20 dias o tempo de transporte marítimo. Já o prefeito de Guayaramerín, Ángel Freddy Maimura Reina, lembrou que as cidades compartilham laços históricos e familiares, e que a ponte permitirá visitar parentes em poucos minutos.

Compromisso firmado há 122 anos

O Tratado de Petrópolis, assinado em 1903, garantiu ao Brasil a anexação do Acre e previa a execução de obras para facilitar as exportações bolivianas — incluindo a ponte agora autorizada. Para o sindicalista Eriberto Salvatierra, de Guayaramerín, a construção representa uma oportunidade de desenvolvimento regional: “Sabemos que o Brasil tem grande desenvolvimento tecnológico e uma agricultura forte; todos esses conhecimentos também são importantes para desenvolver nosso setor e nossas comunidades”.

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