Aposta geopolítica: Trump oferece apoio inédito a Milei para conter crise financeira argentina
Presidente dos EUA promete linha de crédito de US$ 20 bilhões e compra de títulos da dívida para sustentar governo Milei em meio à instabilidade econômica
247 – O presidente da Argentina, Javier Milei, obteve nesta quarta-feira (24) um respaldo financeiro sem precedentes de seu homólogo norte-americano, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump. A informação foi divulgada pela Sputnik Brasil, que destacou a magnitude e o caráter excepcional do anúncio.
Após reunião bilateral em Washington, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, confirmou a negociação de um pacote de apoio de US$ 20 bilhões (R$ 130 bilhões). A ajuda inclui a possibilidade de compra de títulos da dívida argentina e um crédito direto por meio do Fundo de Estabilização Cambial.
Reações de Washington e da Casa Rosada
No comunicado, Bessent elogiou a política econômica de Milei: “Sob a gestão do presidente Milei, a Argentina deu passos importantes rumo à estabilização. Alcançou uma consolidação fiscal significativa e uma ampla liberalização de preços e regulações restritivas, estabelecendo as bases para o histórico retorno da Argentina à prosperidade”.
O secretário também ressaltou estar “completamente preparado para fazer o que for necessário” para sustentar o governo argentino, considerado por ele um “aliado” de Washington. Segundo Bessent, Trump deu a Milei um “respaldo incomum a um líder estrangeiro”, em gesto que evidencia a relevância estratégica da aliança entre os dois países.
Impacto imediato nos mercados
O anúncio repercutiu de forma imediata. Os títulos da dívida argentina registraram alta de mais de 3%, somando-se aos 10% de valorização dos dias anteriores, quando já circulavam rumores sobre a ajuda de Washington. O Risco País recuou drasticamente, caindo de quase 1.500 pontos-base para 900 em apenas quatro dias.
Essa recuperação oferece um alívio temporário ao governo Milei, que enfrenta uma situação de fragilidade extrema, marcada pela venda de US$ 1,1 bilhão em reservas pelo Banco Central apenas na última semana. O reforço de Washington fortalece a posição do partido La Libertad Avanza diante das eleições legislativas de 26 de outubro, primeiro grande teste eleitoral do presidente argentino.
Críticas e dúvidas sobre a dependência externa
Apesar da euforia inicial, analistas alertam para riscos estruturais. O economista Ricardo Aronskind afirmou à Sputnik que o gesto norte-americano tem forte peso político: “Estão dizendo que a Casa Branca será fiadora da estabilidade de Milei. Isso evidencia uma enorme dependência à qual a Argentina está se submetendo”.
Na mesma linha, Guido Zack, pesquisador da Fundar, avaliou que o apoio traz estabilidade até as eleições, mas não resolve os problemas de fundo: “Se o FMI é um credor de última instância, o de Trump vai um passo além”. Zack destacou que os recursos de Washington não deveriam ser usados apenas para sustentar o câmbio, sob risco de esvaziar rapidamente as reservas.
Condições ocultas e disputa geopolítica
Outra questão levantada por especialistas é a possibilidade de que o apoio norte-americano venha atrelado a condições políticas, como o distanciamento da Argentina em relação à China, segundo maior parceiro comercial do país. Buenos Aires mantém com Pequim um swap de moedas considerado estratégico para sua balança de pagamentos.
Para analistas, a manobra de Trump representa uma aposta geopolítica de longo prazo: garantir um aliado estratégico na América do Sul em meio à perda de influência dos EUA e à crescente presença chinesa na região. “Ter um presidente que responde diretamente a seus interesses vale muito nesse contexto”, avaliou Aronskind.