<p><b>Adele Robichez e Rodrigo Viana, </b><a href="https://www.brasildefato.com.br/podcast/brasil-de-fato-entrevista/2025/08/29/gaza-e-primeiro-laboratorio-de-uso-de-inteligencia-artificial-em-guerra-diz-sociologo/"><b>Brasil de Fato</b></a> - O sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), avalia que a Faixa de Gaza se tornou o “primeiro grande laboratório de uso de inteligência artificial numa guerra”. A análise foi feita em conversa com o BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, às vésperas do lançamento de seu novo livro As Big Techs e a Guerra Total, na próxima quarta-feira (3).</p>
<p>Para Amadeu, empresas de tecnologia como Amazon, Microsoft e Google fornecem sistemas de vigilância e processamento de dados para o Estado de Israel. “Os israelenses descobriram que estavam desenvolvendo soluções de inteligência artificial para a vigilância profunda dos palestinos. As big techs trouxeram ferramentas de inteligência artificial para que eles pudessem utilizar”, conta.</p>
<p>Ele cita a denúncia feita em 2021 por funcionários da Amazon e da Microsoft, do movimento No Tech for Apartheid, que revelou a existência de datacenters instalados em Israel com apoio dessas corporações. De acordo com o professor, essas tecnologias foram utilizadas para identificar e fixar alvos a partir do comportamento de palestinos nas redes sociais.</p>
<p>“Eles criaram um modelo de como é o comportamento de alguém do Hamas na rede social, e aplicaram para toda a população de Gaza que tinha rede social”, explica.</p>
<h2>Big Techs como instrumentos geopolíticos</h2>
<p>Na entrevista, Amadeu também comenta a recente ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra países que regularem as big techs, incluindo o Brasil. Para ele, as empresas não podem ser vistas apenas como companhias privadas, mas como dispositivos geopolíticos do Estado estadunidense.</p>
<p>“As big techs não são quaisquer empresas para os Estados Unidos, elas são empresas de alta tecnologia. Elas estão presentes em vários ramos da economia e são decisivas para a política e para o poder político [dos EUA]”, diz.</p>
<p>O pesquisador lembra que, no Brasil, o Projeto de Lei 2630/2020, conhecido como PL das Fake News relatado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) buscava criar regras de transparência e responsabilização para as plataformas digitais. Apesar de ter sido paralisada por pressão política, a proposta é, segundo ele, fundamental para limitar o poder das empresas sobre a democracia.</p>
<p>“Elas controlam a visualização. É assim que as big techs trabalham, junto com a modulação da atenção. O projeto [relatado por] Orlando trabalhava a questão da transparência, da informação. Eu acho que tínhamos que ter auditabilidade, mas isso era uma guerra, não avançava e tinha vários pontos muito importantes de garantir”, lamenta.</p>

Leonardo Lucena

Hospital Nasser, onde o cinegrafista palestino Hussam al-Masri, que era contratado da Reuters, foi morto junto com outros jornalistas e pessoas, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza


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Mundo

‘Faixa de Gaza é primeiro laboratório de uso de inteligência artificial em guerra’, diz sociólogo Sérgio Amadeu

<p><b>247 - </b>Sérgio Amadeu defendeu que o país avance para uma regulação ampla das grandes plataformas digitais, indo além de medidas fragmentadas que tratam apenas da proteção de crianças e adolescentes. Para ele, o desafio central está na própria arquitetura de dados e na forma como as empresas de tecnologia capturam e exploram a atenção dos usuários. “Só existe uma proposta válida: a regulação das big techs”, afirmou.</p>
<p>A declaração foi dada em entrevista ao programa <i>Boa Noite</i>, da TV 247, no qual o sociólogo argumentou que governo e Congresso devem priorizar um marco regulatório capaz de abranger o desenho dos sistemas, o fluxo e uso dos dados, além da transparência dos algoritmos — e não se limitar ao controle de conteúdos voltados ao público infantojuvenil.</p>
<h3><b>O eixo da proposta: transparência e limites ao poder algorítmico</b></h3>
<p>Para explicar por que a regulação precisa ir além do tema da infância, Amadeu descreveu a lógica operacional das plataformas: identificação constante, coleta e cruzamento massivo de dados e modulação de comportamentos por algoritmos opacos. “Eles têm um cenário sobre o que interessa cada um de nós. E aí, o que que eles querem com isso? Eles querem controlar a nossa atenção para depois modular o nosso comportamento” Segundo ele, essa dinâmica exige regras sobre quais dados podem ser coletados, por que são coletados e como sistemas de recomendação priorizam, bloqueiam ou impulsionam conteúdos. “Nós queremos saber que dados eles coletam, por eles estão coletando esses dados, quem eles estão bloqueando, quem eles estão incentivando, por que eles estão fazendo isso. Nós queremos uma maior transparência dos sistemas algorítmicos”</p>
<h3><b>Projetos em debate: ECA Digital, PL 2630 e a janela legislativa</b></h3>
<p>No diagnóstico do sociólogo, há uma “comoção” pública recente em torno da “adultização” e da vulnerabilidade de crianças e adolescentes, o que pode acelerar a aprovação do PL 2628 (ECA Digital). Ele reconhece esse avanço, mas recomenda não perder a oportunidade de retomar a “regulação das plataformas” de forma ampla, como a discutida no PL 2630. “O escândalo não é o melhor legislador”, afirmou, ao defender que o país trate do núcleo estrutural: a governança das plataformas, sua engenharia de atenção e a transparência obrigatória de seus sistemas.</p>
<p>Questionado sobre a estratégia política, Amadeu avalia que o governo pode apoiar um projeto mais maduro no curto prazo e, simultaneamente, encorpar uma proposta geral de regulação das plataformas. “É o momento de tentar, é o momento de tentar retomar a regulação das plataformas”</p>
<h3><b>Por que não fatiar: do desenho de produto à venda de atenção</b></h3>
<p>Amadeu descreveu práticas de teste contínuo e personalização invisível para manter usuários engajados e vender inventário de atenção a quem paga. “Eles vendem a nossa atenção para quem quiser comprar, para quem tem dinheiro para comprar, vendem a nossa atenção” Ele relaciona esse modelo à expansão de conteúdos e serviços que exploram vulnerabilidades — o que inclui, mas não se limita, à infância e adolescência. Por isso, insiste que regras sobre design manipulativo, coleta e uso de dados, auditoria e prestação de contas sejam centrais na lei, e não um apêndice.</p>
<h3><b>Disputa política e reação das plataformas</b></h3>
<p>Segundo Amadeu, haverá resistência organizada e tentativas de reduzir o alcance da regulação por meio de narrativas conhecidas. Ele mencionou a tendência de algumas bancadas de deslocar o debate para pautas moralizantes e lembrou que “o Trump quer exatamente é evitar qualquer tipo de regulação. Ele já disse isso”. Para o sociólogo, a resposta precisa ser institucional, com dispositivos que tornem auditáveis os sistemas de recomendação e prestem contas sobre bloqueios, impulsionamentos e critérios de moderação. Assista:&nbsp;</p>
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Dafne Ashton

Entrevistas

“Só existe uma proposta válida: a regulação das big techs”, diz Sérgio Amadeu

<p><b>247 – </b>Em entrevista concedida ao jornalista Mário Vitor Santos no programa <i>Forças do Brasil</i>, da TV 247, o sociólogo e pesquisador da Universidade Federal do ABC (UFABC), Sérgio Amadeu, fez duras críticas à ofensiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. O programa foi ao ar neste sábado, 19 de julho de 2025, com o tema “Trump e Big Techs contra o Brasil” e está disponível no canal da TV 247 no YouTube <a href="https://www.youtube.com/watch?v=xlDQ_rPCAqM" target="_new">(assista aqui)</a>.</p>
<p>Segundo Sérgio Amadeu, Donald Trump tem atuado abertamente em defesa dos interesses das Big Techs e se coloca contra qualquer tentativa de regulação. Para ele, o objetivo do presidente dos Estados Unidos é proteger os lucros de gigantes como Google, Meta, X (antigo Twitter) e outras, ao mesmo tempo em que cria dificuldades para a soberania brasileira.</p>
<blockquote>&nbsp;“As Big Techs não são empresas comuns dentro do esquema de poder norte-americano. Elas são estratégicas. Trump deixou isso claro desde a sua posse: qualquer país que tente regular ou taxar essas empresas será tratado como inimigo”, afirmou Amadeu.</blockquote>
<p>O sociólogo destacou que Trump ameaçou o Brasil com tarifas de 50% sobre todos os produtos nacionais e chegou a abrir uma investigação comercial, alegando perseguição do Supremo Tribunal Federal às plataformas digitais e a Jair Bolsonaro.</p>
<h3>O Pix como símbolo da resistência brasileira</h3>
<p>Sérgio Amadeu apontou ainda que o sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, o Pix, virou alvo do presidente norte-americano por contrariar interesses financeiros de bancos e das próprias plataformas digitais.</p>
<blockquote>&nbsp;“O Pix prejudicou diretamente os lucros de bandeiras de cartão de crédito, do WhatsApp Pay e dos sistemas financeiros dominados por conglomerados dos Estados Unidos. Isso é visto como um ataque às big techs. Trump quer nos forçar a aceitar uma situação de submissão, onde empresas norte-americanas atuam livremente no Brasil sem pagar impostos nem seguir regras locais.”</blockquote>
<p>Para Amadeu, o Pix representa um avanço da soberania nacional, ao democratizar o acesso a pagamentos sem intermediação de bancos tradicionais.</p>
<h3>A falsa liberdade defendida pelos Estados Unidos</h3>
<p>Durante a entrevista, o sociólogo expôs a hipocrisia do discurso trumpista sobre liberdade de expressão:</p>
<blockquote>&nbsp;“Trump fala em liberdade para defender impunidade. Quando as plataformas são obrigadas a retirar conteúdos criminosos, como fake news ou incitação ao golpe, eles dizem que é censura. Mas nos Estados Unidos, eles fazem o mesmo ou até pior, tomando dados sem ordem judicial e invadindo a privacidade dos usuários.”</blockquote>
<p>Ele frisou que a ideia de liberdade propagada por Trump e pela extrema-direita não tem relação com direitos democráticos, mas sim com a dominação pelo poder econômico.</p>
<h3>Um chamado pela soberania nacional</h3>
<p>Amadeu aproveitou a entrevista para alertar sobre a necessidade do Brasil desenvolver infraestrutura própria e romper a dependência tecnológica do país:</p>
<blockquote>&nbsp;“O Brasil é o único dos BRICS que não construiu nenhuma infraestrutura de tecnologia da informação independente. Usamos nuvem da Amazon, da Microsoft, da Oracle. Os nossos dados estão expostos. Não podemos confiar em empresas estrangeiras para proteger interesses nacionais.”</blockquote>
<p>O professor fez um apelo direto ao governo brasileiro:</p>
<blockquote>&nbsp;“O governo precisa parar de priorizar o WhatsApp para comunicação pública. Precisamos de aplicativos próprios, controle de dados, data centers nacionais, soberania tecnológica de verdade.”</blockquote>
<p>Ele também defendeu medidas concretas, como retirar privilégios de agentes norte-americanos em solo brasileiro, como o porte de armas, e acabar com a subserviência histórica das Forças Armadas brasileiras aos interesses dos EUA.</p>
<h3>A importância do Brasil reafirmar sua independência</h3>
<p>Sérgio Amadeu concluiu que a atual ofensiva de Donald Trump pode servir para o Brasil fortalecer sua soberania em diversas áreas, incluindo economia, tecnologia, cultura e defesa.</p>
<blockquote>&nbsp;“Nós temos que transformar essa provocação em oportunidade. Trump mostrou ao Brasil que o imperialismo é real, e que temos capacidade de resistir, como mostramos com o Pix. A soberania não é discurso, é prática.”</blockquote>
<p>A íntegra da entrevista está disponível no canal da TV 247 no YouTube: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=xlDQ_rPCAqM" target="_new">Trump e Big Techs contra o Brasil - Forças do Brasil - TV 247</a>. Assista:</p>
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Redação Brasil 247

"Trump trata como inimigo qualquer país que queira regular as big techs", diz Sérgio Amadeu

<p><b>Agência Brasil – </b>O apagão cibernético global que impactou sistemas operacionais de empresas e serviços de diversos países, incluindo companhias aéreas, bancos, hospitais e canais de mídia, revela os riscos do acesso a dados armazenados em nuvem. A opinião é do professor e pesquisador Sergio Amadeu, da Universidade Federal do ABC Paulista (UFABC), sociólogo e doutor em ciência política, e especialista em redes digitais.</p>
<p>Uma falha na atualização de conteúdo relacionada ao sensor de segurança CrowdStrike Falcon, que serve para detectar possíveis invasões de hackers, e é utilizado por empresas como a Microsoft, proprietária do Windows - usado largamente em computadores - foi a causa da pane, que gerou caos em aeroportos da América do Norte e Europa.</p>
<p>O Brasil também foi atingido, com falhas em aplicativos bancários e sistemas de hospital, mas em muito menos escala do que em outros continentes.</p>
<p>"Os sistemas tecnológicos [em geral] têm falhas, isso é inegável. Mas o que esse caso chama mais atenção é que a falha ocorreu no serviço de nuvem da Microsoft, principalmente quem usa soluções e sistemas que estão hospedados num datacenter e que você acessa seus dados e sistema remotamente. Os sistemas de nuvem são bastante ágeis, muitas vezes mais baratos, mas ele trazem esse problema e isso nos alerta que pode haver problemas muitos mais graves no futuro", avaliou Amadeu, em entrevista ao telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil, nesta sexta-feira.</p>
<p>O armazenamento em nuvem permite o acesso a dados e arquivos pela internet a partir de um provedor que armazena, gerencia e mantém servidores em datacenters que guardam essas informações. Segundo Sergio Amadeu, atualmente, esses serviços estão concentrados nas mãos de poucas grandes empresas e isso chama atenção para a necessidade de proteger sistemas sensíveis do país.</p>
<p>"Uma falha em algumas máquinas que estão dentro do provedor de nuvem, dos datacenters da Microsoft, nos Estados Unidos, concentra tantos dados, tantos sistemas de várias empresas no mundo, que gerou um problema econômico global, tanto é que estamos chamando de apagão. A concentração de dados, de poder econômico que esses oligopólios digitais adquiriram, é muito grande. Então, o Brasil precisa pensar isso com muito cuidado. Se, por exemplo, sistemas sensíveis importantes, seja para governos, para sistema financeiro, para instituições educacionais, é vantajoso ter esses dados e sistemas hospedados remotamente", observou.</p>
<p>Para o pesquisador, esse problema poderia acontecer com servidores que hospedam dados dentro da sua própria empresa ou no próprio país, mas o apagão cibernético desta sexta mostra os graves riscos do acesso remoto de sistemas e dados e a necessidade de se discutir soberania digital.</p>
<p>"Imagine um hospital que tem toda sua base de dados hospedada num provedor de nuvem, que muitas vezes esses dados não estão nem no Brasil. Isso traz um problema da soberania digital para nós", ressaltou.</p>

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