Pepe Escobar: Sul Global está no centro da História e redesenha a nova ordem mundial
Analista geopolítico fala sobre o protagonismo dos BRICS, o ataque ao Pix, a ofensiva tecnológica da China e o papel de Lula na ascensão do Sul Global
247 – O jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar publicou \o vídeo "Como o Sul Global está tecendo um novo mundo", no qual apresenta uma ampla análise sobre a reconfiguração da ordem mundial, impulsionada pela ascensão do Sul Global e o declínio das potências ocidentais. Escobar defende que os países do Sul Global — com destaque para China, Rússia e Brasil — estão no centro das decisões geoeconômicas e geopolíticas do século XXI.
Com seu estilo característico, Escobar critica o papel desestabilizador dos Estados Unidos sob o presidente Donald Trump e denuncia o avanço da guerra híbrida contra as potências emergentes, com ataques econômicos, tecnológicos e diplomáticos.
Xi Jinping, Putin e Trump na mesma mesa? Uma nova Ialta no horizonte
Pepe Escobar levanta a hipótese — ainda especulativa — de um possível encontro entre Xi Jinping, Vladimir Putin e Donald Trump em Pequim, no dia 3 de setembro, durante a comemoração chinesa dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Embora improvável, o encontro seria, segundo ele, “uma Ialta 2.0”.
“Seria na pauta uma Ialta 2.0 porque teríamos, provavelmente, na mesma sala [...] Xi Jinping, Vladimir Putin e Donald Trump na mesma mesa”, afirma.
No entanto, ele pondera que a participação de Trump seria improvável, já que isso implicaria ceder protagonismo a Xi Jinping — algo difícil de imaginar no comportamento de um “egomaníaco cósmico”, nas palavras do jornalista.
Pix como alvo da guerra híbrida: inovação do Sul Global sob ataque
Escobar dedica uma parte relevante de sua análise ao sucesso do Pix, que ele conheceu em sua recente passagem pelo Brasil. Ele o define como um sistema brilhante e inovador, um exemplo de política pública eficiente que beneficia toda a população.
“É um sistema público para um benefício público. E não é à toa que diversos países no Sul Global estão prestando atenção à experiência de extremo sucesso do Pix.”
Segundo ele, o sucesso do Pix gerou incômodo nos EUA, especialmente entre as corporações de pagamento digital e cartões de crédito, que estariam pressionando o governo americano a atacar o sistema por meio de investigações e barreiras comerciais.
BRICS e China: a nova rota da geoeconomia global
Pepe Escobar revela que, apenas nos primeiros seis meses de 2025, o comércio entre a China e seus parceiros do BRICS alcançou a impressionante marca de US$ 855 bilhões. O volume reforça, segundo ele, o papel central da China na reorganização do comércio global, ao lado de países como Indonésia, Vietnã, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão e outras nações do Sul Global.
“Qualquer vociferação [...] é absolutamente irrelevante, porque isso não vai mudar o fluxo da história, não vai mudar o fluxo geoeconômico da história que a gente já está vivendo.”
O Himalaia, o porto de Pecém e a engenharia do Sul Global
Escobar também destaca o início da construção do megaprojeto hidrelétrico chinês no rio Bramaputra, no Tibete. A obra, descrita como “o projeto hidrelétrico do século”, revela a capacidade tecnológica e financeira da China. Ele ressalta que esse tipo de projeto reverbera no Sul Global como um exemplo de avanço soberano e sustentável.
No Brasil, o jornalista menciona a expansão do porto de Pecém (CE), os investimentos da BYD na Bahia e o estudo de uma nova rota ferroviária que conecta Ilhéus ao Pacífico — iniciativas estratégicas que reforçam o papel do país no tabuleiro logístico e comercial liderado pela China.
União Europeia em impasse e o desinteresse chinês
A cúpula China-União Europeia também entra no radar da análise. Escobar afirma que os chineses estão céticos sobre a capacidade dos europeus em manter relações comerciais produtivas e estáveis. A hesitação de países como França e Itália em relação à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) reflete, segundo ele, a fragmentação interna da Europa e sua postura errática.
“Se vocês não quiserem, não há problema, porque nós temos todo o resto, todo o Sul Global para fazer business conosco.”
Bandung, os Não-Alinhados e o novo protagonismo do Sul Global
O jornalista resgata um momento simbólico da cúpula dos BRICS realizada no Rio de Janeiro. Ele destaca o discurso do primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, que fez uma referência direta à Conferência de Bandung de 1955 e ao Movimento dos Países Não-Alinhados, traçando um paralelo com o que os BRICS representam hoje.
“O senhor presidente Lula é um desses líderes”, declarou Anwar, arrancando aplausos entusiasmados, segundo Escobar. Ele vê na figura de Lula um articulador natural da nova ordem global baseada na soberania e na integração do Sul Global.
A decadência do Ocidente e a ascensão das civilizações esquecidas
Em tom histórico, Escobar traça uma genealogia da contribuição de diversas civilizações do Sul Global — Índia, China, mundo islâmico — para o desenvolvimento da humanidade. Ele critica a arrogância do modelo ocidental e exalta as trocas históricas que moldaram a cultura e o conhecimento globais.
“Agora é completamente uma outra história. Quem está no centro da história agora é o Sul Global. O resto é a decadência do Ocidente.”
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