Índia trava renovação da parceria econômica no BRICS

247 – O BRICS — formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros seis países — enfrenta dificuldades para renovar sua Estratégia de Parceria Econômica para o período 2025-2030. A informação foi publicada pelo jornal Valor Econômico, em reportagem de Assis Moreira. A iniciativa, que deveria ter sido aprovada durante a presidência brasileira do grupo, esbarra na resistência da Índia, em meio ao aumento das pressões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os países emergentes.

A parceria, lançada em 2020 durante a cúpula de Moscou, tinha como objetivo ampliar cooperação em comércio, investimentos, economia digital e desenvolvimento sustentável. O documento original já destacava a necessidade de “resistir à incerteza global emergente causada por uma série de fatores, incluindo o aumento de medidas unilaterais e protecionistas que vão contra o espírito e as regras da OMC”. Para esta renovação, o plano evita temas mais sensíveis, como moeda única ou desdolarização, e se limita a estudar meios alternativos de pagamento, alinhando-se ao que já havia sido acertado pelos ministros de Finanças do bloco.

Impasse com a Índia

Apesar do caráter moderado do plano, Nova Déli trava as negociações desde o início do ano. A proposta deveria ter sido aprovada em maio, na reunião de ministros do Comércio, em Brasília, mas divergências indianas mantiveram trechos em aberto. Na cúpula de líderes do BRICS, realizada no início de julho no Rio de Janeiro, os negociadores (“sherpas”) não tiveram tempo de avançar no texto.

O comportamento indiano reflete a prioridade de manter boas relações com Washington. O ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, tem reiterado que “nossas relações com os EUA estão provavelmente melhores do que nunca”. Durante a cúpula, Trump reagiu com hostilidade às discussões sobre desdolarização, destacando que a Índia “não tinha absolutamente nenhum interesse em minar o dólar”.

Pressão direta dos EUA

O episódio ocorre em meio a uma escalada de intimidações por parte de Donald Trump. O presidente norte-americano ameaçou aplicar uma tarifa adicional de 10% contra qualquer país que “se alinhasse” ao bloco “antiamericano”, durante a cúpula no Rio. Em seguida, anunciou a chamada “Tarifa Bolsonaro”, de 50% sobre produtos brasileiros.

No caso indiano, Trump tem endurecido o discurso, criticando tarifas de importação elevadas e a manutenção de laços militares e energéticos com Moscou. “Eles sempre compraram a grande maioria de seus equipamentos militares da Rússia e são os maiores compradores de energia da Rússia, juntamente com a China, em um momento em que todos querem que a Rússia pare de matar na Ucrânia”, escreveu o presidente em rede social.

Segundo o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, as tarifas são parte de uma reordenação mais ampla da economia mundial. Para ele, “o sistema de comércio internacional consiste numa rede de relacionamentos, militares, econômicos e políticos”, que pode ser reorganizada para favorecer os interesses americanos. Os EUA já preveem arrecadar até US$ 300 bilhões com tarifas em 2025.