“A América Latina não é quintal de ninguém", diz pesquisador chinês Viktor Gao
Vice-presidente do Centro para a China e Globalização diz que EUA não têm o direito de frear as relações entre a China e a América Latina
247 – Em um momento de crescente tensão geopolítica entre as principais potências globais, o pesquisador chinês Viktor Gao, vice-presidente do influente think tank Centro para a China e Globalização, criticou duramente a postura dos Estados Unidos em relação à América Latina. Gao afirmou que a China está preparada para um eventual colapso nas relações comerciais com os EUA e que continuará expandindo sua presença no chamado Sul Global, incluindo a América Latina.
“O comércio entre China e Estados Unidos pode voltar a zero. Precisamos estar preparados para o pior”, disse Gao. Segundo ele, essa preparação é fundamental para uma atuação estratégica mais sólida no cenário internacional. “Somente depois de termos um pensamento baseado no pior cenário possível é que podemos fazer uma melhor implantação estratégica. O mundo é muito grande, não é só os Estados Unidos. Há muitos outros países”, completou.
Crítica ao discurso de hegemonia norte-americana
O ponto mais incisivo de sua fala, no entanto, foi a crítica ao que considera uma visão colonialista dos Estados Unidos sobre o continente latino-americano. “Os americanos dizem frequentemente que a América Latina é seu quintal. Espera aí. Eu já enfatizei isso muitas vezes. No mundo de hoje, a América Latina não é o quintal de nenhum país”, declarou o pesquisador.
Gao defendeu o direito da China de ampliar sua cooperação com países latino-americanos, em uma lógica de parceria bilateral com benefícios mútuos. “A China pode ir para lá se quiser. Nenhum país pode nos impedir de ir à América Latina e conduzir uma cooperação bilateral mutuamente benéfica com os países latino-americanos.”
Nova ordem global e papel da China
O pesquisador também apontou que a China está disposta a exercer um papel de liderança mais robusto na construção de uma nova ordem global. Para ele, o país asiático não só representa o maior fator de estabilidade do mundo atual, como também é capaz de tomar decisões corretas nos momentos cruciais.
“Agora é o momento para que a China realmente exerça um papel importante no mundo. Podemos não apenas mostrar aos americanos que nossas escolhas estão corretas, mas também mostrar ao mundo inteiro que as escolhas da China estão corretas e abraçam todos os tipos de vida”, disse Gao.
Aposta na cooperação com o Sul Global
O vice-presidente do Centro para a China e Globalização também defendeu que, diante da possibilidade de um retrocesso nas relações comerciais com os Estados Unidos, a China deve levantar com firmeza a bandeira do livre comércio com outras regiões. Ele citou explicitamente Europa, África, América Latina, Sudeste Asiático e todo o Sul Global como parceiros prioritários.
“Há muito trabalho a ser feito”, destacou, ao apontar que a estratégia chinesa vai além da disputa com Washington, e se apoia na construção de uma rede global baseada na cooperação econômica, sem imposições ou restrições arbitrárias.
As declarações de Viktor Gao revelam uma China cada vez mais assertiva no tabuleiro global e determinada a ampliar sua influência econômica e diplomática em regiões que antes estavam sob forte hegemonia ocidental, como a América Latina. O embate com os Estados Unidos, longe de se limitar à esfera comercial, reflete um reposicionamento de forças que pode redefinir as alianças globais nas próximas décadas. Confira:
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