Colômbia propõe transformação da Celac sob liderança de Petro
Presidente colombiano propõe maioria qualificada nas votações e frentes contra o bloqueio a Cuba e Venezuela
247 – Em artigo publicado pelo portal PIA Global, o pesquisador colombiano-argentino Marcelo Caruso Azcárate analisa o discurso do presidente Gustavo Petro ao assumir, em 9 de abril de 2025, a presidência pro tempore da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). A cerimônia, realizada em Tegucigalpa, Honduras, contou com a presença de 11 chefes de Estado da região, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente mexicana Claudia Sheinbaum, simbolizando o apoio das duas maiores economias da América Latina à proposta colombiana.
No texto, Caruso destaca que a imprensa tradicional frequentemente ignora ações construtivas de lideranças que não seguem a cartilha conservadora, o que estaria acontecendo também com a proposta de Petro de transformar profundamente a Celac. Para o autor, a fala do presidente colombiano representa um “guia para os passos concretos rumo à integração dos povos e forças progressistas da região”.
Da retórica à ação: reformas estruturantes para a Celac
Criada como extensão da Unasul, a Celac carece de institucionalidade robusta. Gustavo Petro propôs, de forma inédita, substituir o atual sistema de consenso unânime por um modelo de deliberação por maioria qualificada, com o objetivo de evitar o bloqueio constante de países que se opõem a avanços concretos, como Argentina e Paraguai. O modelo se inspira no funcionamento da União Europeia e da Organização dos Estados Americanos (OEA), e já conta com o apoio do Uruguai, que assumirá a presidência do bloco em 2026.
“Essa metodologia, se adotada, permitirá romper com o veto sistemático que paralisa a Celac e permitirá avançar em sua vocação fundacional: a integração regional com justiça social”, analisa Caruso.
Sete eixos estratégicos para uma CELAC transformadora
Durante a cúpula, Petro delineou sete frentes de ação prioritárias para a sua gestão:
- Apoio à reconstrução democrática do Haiti
- Fim dos bloqueios a Cuba e Venezuela
- Criação de uma rede de energias alternativas
- Proteção da biodiversidade, saberes ancestrais e bancos genéticos da região
- Preservação das florestas tropicais da Amazônia, Orinoco, América Central e Chocó biogeográfico
- Articulação de uma aliança de segurança humana contra o crime organizado
- Promoção de culturas de paz nos Estados da região
Esses temas deverão ser trabalhados por comissões voluntárias formadas pelos países interessados, sem a imposição de unanimidade para avançar.
Celac Social: inclusão de vozes populares no processo de integração
Petro também propôs a criação de uma “Celac Social”, integrando movimentos comunitários, organizações indígenas, sindicais, ambientais, feministas e populares nos espaços de formulação e deliberação. Segundo Caruso, essa inclusão é fundamental para garantir que a agenda da Celac não se limite a uma visão tecnocrática ou subordinada ao capital financeiro.
“O antiimperialismo, nesse novo marco, não é apenas uma bandeira ideológica, mas uma prática social que se reinventa e renasce a partir das experiências concretas de resistência dos povos latino-americanos”, afirma o pesquisador.
Cenário geopolítico e o papel estratégico da Celac
Num contexto internacional marcado pela disputa de hegemonia entre grandes potências, a Celac deve assumir papel estratégico nas articulações com blocos como a União Europeia, a Liga Árabe, a União Africana e o Pacto Andino. A reunião mais importante, entretanto, ocorrerá em maio com a China, o que exigirá — nas palavras de Caruso — “audácia criativa” para transformar riscos em oportunidades.
A proposta colombiana, se implementada, pode representar um ponto de inflexão no processo de integração regional, dando novo fôlego a uma entidade que, até então, padecia de paralisia institucional.
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