Uma em cada quatro pessoas ainda vive sem acesso seguro à água potável, alerta ONU
Relatório mostra que 2 bilhões de pessoas seguem sem acesso básico à água limpa; África concentra os maiores desafios
247 - Mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo permanecem sem acesso a água potável segura, revelou um relatório divulgado nesta terça-feira (26) pela ONU (Organização das Nações Unidas). O levantamento, noticiado pela Folha de S.Paulo, evidencia que os avanços rumo à universalização do acesso ainda são lentos e insuficientes.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), um em cada quatro habitantes do planeta continua privado de água potável administrada de forma segura. O estudo também aponta que mais de 100 milhões de pessoas ainda dependem de fontes superficiais, como rios, lagos e canais, para consumo diário.
Riscos crescentes para a saúde global
O relatório destaca que a lentidão no cumprimento das metas do programa WASH (Água, Saneamento e Higiene, na sigla em inglês) expõe bilhões de pessoas ao risco de doenças infecciosas. As agências alertam que a meta de alcançar cobertura universal até 2030 está cada vez mais distante.
“Água, saneamento e higiene não são privilégios. São direitos humanos fundamentais”, afirmou Rüdiger Krech, diretor de Meio Ambiente e Mudança Climática da OMS. Ele reforçou que é preciso acelerar as ações, “em particular para as comunidades mais marginalizadas”.
Classificação dos serviços de água
O estudo analisou cinco níveis de acesso à água potável. O mais elevado, chamado de “gestão segura”, é caracterizado pela disponibilidade de água limpa no local, livre de contaminação química ou fecal. Os demais níveis vão do “básico” (fonte em até 30 minutos de distância) ao “superficial”, quando a população depende diretamente de rios ou lagoas.
Apesar de alguns avanços desde 2015 — quando 961 milhões de pessoas conquistaram acesso a sistemas mais seguros — o número de pessoas sem cobertura ainda chega a 2,1 bilhões. Entre elas, 106 milhões continuam recorrendo a água superficial, embora esse número tenha caído em relação a uma década atrás.
África concentra desigualdades
Os dados mostram que apenas 89 países contam com serviço básico de fornecimento de água potável, e somente 31 alcançaram o acesso universal seguro. A situação mais crítica está concentrada na África, onde 28 países ainda convivem com índices alarmantes: em muitos deles, uma em cada quatro pessoas não tem sequer acesso a serviços básicos.
No campo do saneamento, houve progresso: desde 2015, 1,2 bilhão de pessoas passaram a contar com serviços seguros, elevando a cobertura mundial de 48% para 58%. Também diminuiu o número de pessoas que ainda precisam defecar ao ar livre — de 429 milhões para 354 milhões.
Em relação à higiene, 1,6 bilhão de pessoas passaram a ter acesso a locais para lavar as mãos com água e sabão, ampliando a cobertura para 80% da população global.
Impactos sobre a infância
A desigualdade no acesso atinge de forma mais severa as crianças. “Quando as crianças não têm acesso a água potável, saneamento e higiene, sua saúde, educação e futuro estão em risco”, destacou Cecilia Scharp, diretora do programa WASH no Unicef.
Ela acrescentou que as desigualdades de gênero agravam ainda mais o cenário: “As meninas são as mais impactadas, já que muitas vezes assumem a responsabilidade de buscar água e enfrentam desafios adicionais durante a menstruação”.
De acordo com Scharp, sem mudanças significativas, “no ritmo atual, a promessa de acesso à água potável e saneamento para cada criança está cada vez mais longe”.