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Oficial da PM admite que operação no Rio teve impacto mínimo contra o Comando Vermelho

Em audiência no Congresso, subsecretário de Inteligência reconheceu que a ação, apesar de simbólica, não enfraqueceu o poder das facções

Operação policial no Rio de Janeiro - 28 de outubro de 2025 (Foto: REUTERS/Aline Massuca)

247 - Durante audiência na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI), no Senado, o subsecretário de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Daniel Ferreira de Souza, reconheceu que a megaoperação nas comunidades da Penha e do Alemão teve um efeito apenas “simbólico”. O oficial afirmou que, apesar dos números expressivos, o impacto real sobre o Comando Vermelho foi “ínfimo”. As informações são do jornal O Globo.

Segundo Ferreira de Souza, a ação teve importância no “campo simbólico”, mas não conseguiu desarticular o poder da principal facção criminosa do Estado. “Aquela grande operação teve um resultado impressionante à vista dos números, mas que ainda assim foi algo ínfimo dentro do poder do Comando Vermelho e das outras facções na estrutura do Rio de Janeiro. Então, isso não resolveu”, declarou o subsecretário.

Ferreira destacou que a operação foi usada pelo governo do Rio de Janeiro como demonstração de força do Estado, especialmente diante das críticas ligadas à ADPF das Favelas, que restringe ações policiais em comunidades. “Foi importante a nível simbólico para o Estado mostrar que ele é capaz de entrar em qualquer local, porque uma das bandeiras que era vendida, muito por conta da ADPF, é que havia locais onde não era possível o Estado entrar”, afirmou.

Segundo ele, essa narrativa era explorada pelo Comando Vermelho para atrair lideranças criminosas de outros Estados. Entre os alvos da operação, havia integrantes oriundos do Pará, Bahia, Ceará e Amazonas. A megaoperação, conduzida pelas polícias Civil e Militar, resultou em 121 mortos e 113 presos, sendo classificada como a ação mais letal da história do Rio de Janeiro.

Apesar das críticas, o governador Cláudio Castro (PL) classificou a operação como um “sucesso” e um duro golpe contra o crime organizado. No entanto, durante a sessão da CCAI, o subsecretário insistiu que o foco da ação foi minar o discurso da facção. “Se essa operação não vai resolver o problema, nós sabemos que não vai, ao mesmo tempo mostrou que a retórica que o Comando Vermelho usava para conseguir converter e atrair lideranças do Brasil foi subvertida e o Estado entra em qualquer lugar de fato”, pontuou.

Ferreira também reforçou a necessidade de maior integração entre forças estaduais e federais, alertando para os riscos da fragmentação do país diante da criminalidade organizada. “Se o Brasil não se ver como um país que possui países e Estados dentro do próprio Estado, talvez estejamos fadados a muitos problemas e talvez mortes de brasileiros”, completou.

Na mesma audiência, o delegado da Polícia Federal Leandro Almada, atual chefe da Diretoria de Inteligência Policial (DIP) e ex-superintendente da PF no Rio, fez duras críticas à estratégia adotada. Para ele, o custo humano foi alto demais para resultados tão limitados. “O problema é que o Estado não precisa entrar, mas estar. Eu não consigo tachar como um sucesso uma operação em que você teve quatro enterros no dia seguinte. Uma ação dessa com um custo imenso para as famílias dos policiais teria que ter um resultado efetivo. E não entrar lá e, dois meses depois, fazer a mesma coisa. O que mudou efetivamente para o cidadão que mora lá?”, questionou Almada.

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