Flávio Bolsonaro usa chacina para atacar o governo Lula
Senador da extrema direita tenta responsabilizar o presidente por operação policial com 64 mortos no Rio de Janeiro
247 – O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) usou a chacina provocada pela megaoperação policial nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, para atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em vídeo publicado nas redes sociais com o título “Guerra ao Comando Vermelho: Lula abandonou o Rio de Janeiro”, o parlamentar afirmou que o governo federal “lavou as mãos” diante do combate ao crime organizado e que o presidente “está do lado errado” da violência no estado. As declarações foram divulgadas pelo canal do senador no YouTube nesta terça-feira (28).
Segundo Flávio Bolsonaro, o governo do presidente Lula teria negado apoio logístico ao Rio de Janeiro para o uso de veículos blindados das Forças Armadas na operação – o que é falso. “Hoje, mais uma vez, os nossos policiais não tiveram nenhum apoio do governo federal. Isso só reforça o que Lula pensa do combate ao crime organizado”, disse o senador.
Chacina e acusações políticas
A megaoperação, considerada a maior da história do estado, resultou em 64 mortes — sendo 60 suspeitos e quatro policiais —, 81 prisões e a apreensão de 93 fuzis, segundo balanço do governo do Rio. A ação mobilizou cerca de 2.500 agentes e durou mais de um ano de investigações.
Em tom político, Flávio Bolsonaro associou o episódio a uma suposta omissão do governo federal, afirmando que “Lula não está nem aí para as verdadeiras vítimas, em especial as pessoas mais pobres que moram em comunidades e são obrigadas a obedecer às ordens de traficantes e milicianos”. O senador chegou a resgatar imagens antigas, dizendo que “presidiários comemoraram a eleição de Lula”, para insinuar uma afinidade entre o governo e criminosos.
Tentativa de instrumentalizar a violência
O discurso do senador repete uma estratégia recorrente da extrema direita: usar tragédias e operações policiais como arma política contra o governo federal. Flávio também atacou o Supremo Tribunal Federal, criticando a ADPF 635 — ação movida pelo PSB, aliado do governo — que restringe operações em comunidades, ao alegar que a medida “transformou o Rio num resort de traficantes”.
Na mesma gravação, ele exaltou o número de mortos e de fuzis apreendidos como sinal de “sucesso” da operação e disse que “a grande mídia prefere dar destaque à quantidade de bandidos mortos em vez de valorizar os policiais”. O senador afirmou ainda que o Senado aprovou um “pacote anticrimes violentos” com penas mais severas e desafiou Lula a sancioná-lo: “Vamos ver se ele está do lado das verdadeiras vítimas ou do lado dos bandidos”.
Contexto de uma política de segurança letal
As declarações de Flávio Bolsonaro ocorrem em meio à repercussão nacional sobre o alto número de mortos na operação. Organizações de direitos humanos, parlamentares e juristas têm classificado a ação como uma das maiores chacinas da história do Rio, lembrando que operações semelhantes já ocorreram sob o governo de Cláudio Castro, também aliado da família Bolsonaro.
A tentativa de transformar a tragédia em palanque político reforça a narrativa da extrema direita de associar o governo federal à conivência com o crime, ignorando as responsabilidades do governo estadual e os impactos sociais das ações violentas.


