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“Estamos em uma situação anormal”, afirma Padilha sobre intoxicações por metanol em São Paulo

Ministro afirma que número de casos registrados em setembro já se aproxima da média anual

Alexandre Padilha (Foto: Walterson Rosa/MS)

247 - O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, alertou nesta terça-feira (30) para o crescimento preocupante de intoxicações por metanol em São Paulo. Segundo ele, somente neste mês já foram registradas ocorrências equivalentes a quase metade da média anual de casos no Brasil. A informação foi divulgada em entrevista e repercutida pelo g1.

De acordo com Padilha, o país costuma registrar cerca de 20 episódios desse tipo por ano, mas desde setembro seis casos já foram confirmados apenas no estado paulista, incluindo três mortes, enquanto outros dez seguem em investigação. “O país costuma ter 20 casos por ano de intoxicação por metanol. A partir de setembro, foi quase metade das notificações que costumam ter no ano e concentrado apenas em São Paulo, o que chama atenção”, afirmou o ministro, classificando a situação como “anormal”.

Medidas emergenciais

Padilha explicou que o Ministério da Saúde vai publicar uma nota técnica para orientar os profissionais sobre como identificar casos suspeitos e agir rapidamente. Segundo ele, não é necessário aguardar a conclusão do diagnóstico para notificação. O Brasil conta hoje com 32 centros de informação e assistência toxicológica do SUS, disponíveis em todos os estados para atender a população.

O ministro destacou ainda que, historicamente, as intoxicações por metanol estão ligadas a tentativas de suicídio ou ao consumo da substância como combustível por pessoas em situação de rua. “Estamos em uma situação anormal, diferente do que temos na série histórica”, reforçou.

Ação da Polícia Federal

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, informou que a Polícia Federal abriu inquérito para apurar a origem do metanol utilizado na adulteração de bebidas alcoólicas no estado. “Na segunda-feira, determinamos ao dr. Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF, que abrisse um inquérito policial para verificar a procedência dessa droga e a rede possível de distribuição que, ao tudo indica, transcende o limite de um único estado”, disse.

Segundo Lewandowski, ainda não há indícios de que uma marca específica esteja envolvida, mas há suspeita de que a rede de distribuição possa alcançar outros estados. O consumo de bebidas adulteradas com metanol pode causar desde fortes cólicas e perda de visão até a morte.

Crime organizado na mira

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, não descartou possível envolvimento de facções criminosas na adulteração de bebidas. Ele lembrou que investigações anteriores identificaram esquemas de importação de metanol para adulteração de combustíveis. “A investigação dirá se há conexão com o crime organizado”, afirmou Rodrigues, em contraposição ao posicionamento do secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL).

A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) também apontou que o metanol usado nas bebidas pode ter a mesma origem das cargas ilegais ligadas ao crime organizado e apreendidas recentemente no setor de combustíveis.

Jovens entre as vítimas

Entre os casos investigados está o de quatro jovens que passaram mal após consumir gin em uma adega na Cidade Dutra, Zona Sul da capital. Um deles, Rafael dos Anjos Martins Silva, permanece internado em estado grave na UTI. Sua mãe, Helena Martins, relatou ao Fantástico que a situação é irreversível: “Ele está respirando pelo ventilador, não tem fluxo sanguíneo cerebral. Segundo a medicina, é irreversível”.

Medidas de fiscalização

A Secretaria de Defesa do Consumidor divulgou uma nota técnica recomendando que bares e comerciantes redobrem a atenção quanto à procedência de bebidas alcoólicas. Já foram realizadas ações de fiscalização em estabelecimentos da capital paulista, resultando na apreensão de mais de 100 garrafas de destilados sem rótulo.

O que é o metanol e quais os riscos

O metanol é uma substância usada em processos industriais, como fabricação de solventes, tintas, plásticos e biodiesel. Não tem qualquer aplicação no consumo humano e, em contato com o organismo, pode provocar náusea, tontura, convulsões, cegueira e até a morte, mesmo em pequenas quantidades.

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