O que se sabe sobre as intoxicações por metanol em São Paulo e a possível ligação com o crime organizado
Autoridades confirmam seis intoxicações e três mortes investigadas; associação aponta possível envolvimento do crime organizado
247 - O Centro de Vigilância Sanitária (CVS), da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, confirmou seis casos de intoxicação por metanol no estado. Pelo menos três mortes estão em investigação: duas em São Bernardo do Campo e uma na capital paulista.
Segundo informações divulgadas pela CNN Brasil, a Polícia Civil já registrou quatro boletins de ocorrência relacionados a envenenamento por bebidas adulteradas. Dois episódios ocorreram na capital, apurados pelo 78º Distrito Policial. Outro inquérito tramita no 48º DP (Cidade Dutra), que investiga um grupo que teria consumido bebidas clandestinas.
Mortes em São Bernardo do Campo
A Prefeitura de São Bernardo confirmou que recebeu notificações de dois óbitos suspeitos por contaminação. O primeiro caso é de um homem de 58 anos, atendido no Hospital de Urgência e falecido em 24 de setembro. O segundo, de 45 anos, morreu em 28 de setembro após atendimento na rede particular. Ambos os exames estão em análise no Instituto Médico Legal (IML) para confirmar a presença da substância.
Na capital, a terceira morte sob investigação ocorreu na região da Mooca/Aricanduva.
Ação das autoridades
O Ministério da Justiça e Segurança Pública emitiu recomendação urgente, orientando bares e estabelecimentos a ficarem atentos a sinais de falsificação, como lacres tortos e preços muito abaixo do mercado. O CVS reforçou que a fiscalização foi intensificada e alertou para os riscos do consumo de bebidas clandestinas.
Possível ligação com o crime organizado
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) divulgou nota neste domingo (28) sugerindo que a recente onda de intoxicações pode estar relacionada às atividades da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Segundo a entidade, o metanol utilizado pelo PCC para adulterar combustível pode ter sido repassado a destilarias clandestinas após a operação Carbono Oculto, que desmantelou um esquema de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis.
Para a ABCF, "o fechamento nas últimas semanas de distribuidoras e formuladoras de combustível diretamente ligadas ao crime organizado, que importam metanol de maneira fraudulenta para adulteração de combustíveis, conforme já comprovado por investigações do Gaeco e do MP de SP, podem ser a causa dessa recente onda de intoxicações e envenenamentos de consumidores que, ao tomar bebidas destiladas em bares e casas noturnas, apresentaram intoxicação por metanol".
A associação acrescentou ainda: "Ao ficar com tanques repletos de metanol lacrados e distribuidoras e formuladoras proibidas de operar, a facção e seus parceiros podem eventualmente ter revendido tal metanol a destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores".
No fim de agosto, uma megaoperação cumpriu mandados contra empresas do setor de combustíveis e do mercado financeiro utilizadas pelo PCC. A investigação revelou adulteração de combustíveis, fraude fiscal e lavagem de dinheiro. Em alguns postos, foram encontrados níveis de até 90% de metanol, quando o limite estabelecido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) é de apenas 0,5%.
O risco do metanol
O metanol é um líquido incolor, inflamável e de uso frequente como solvente. Mesmo em pequenas doses, pode provocar intoxicação grave e levar à morte. No organismo, é metabolizado em formaldeído e ácido fórmico — compostos altamente tóxicos que podem causar cegueira, acidose metabólica, depressão do sistema nervoso central, convulsões e até coma.
De acordo com relatos do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox), nos últimos anos os casos estavam relacionados principalmente à ingestão de combustíveis por pessoas em situação de rua. Agora, porém, as ocorrências recentes envolvem ambientes sociais, como bares, e diferentes bebidas alcoólicas, incluindo gin, whiskey e vodka.