HOME > Sudeste

Empresários relatam ameaças do PCC em esquema de lavagem de dinheiro

Quadrilha usava intimidação para tomar postos e motéis em São Paulo, revelam depoimentos

Sigla da facção Primeiro Comando da Capital e um posto de combustível (Foto: Paulo Whitaker/Reuters I Agência Brasil)

247 - Depoimentos revelados pelo Fantástico, da TV Globo, expõem a forma como o Primeiro Comando da Capital (PCC) se infiltrava em negócios legais para lavar dinheiro. Empresários contaram que foram coagidos a vender estabelecimentos, sob risco de morte, e acabaram responsabilizados por crimes cometidos pela própria facção.

Um dos casos envolve um dono de posto de combustível que, em meio a dificuldades financeiras, recebeu uma proposta de venda. Ele não sabia que os compradores estavam ligados ao crime organizado. Ao tentar desfazer o contrato, passou a ser ameaçado. “Ele começou a falar: ‘É, tem pai matando o filho por causa de dinheiro. Tem filho matando o pai por causa de dinheiro. Se mata muito fácil por causa de dinheiro’”, relatou a vítima.

Empresários coagidos e fraudes contratuais

Em outro caso, um empresário relatou ter ouvido de um criminoso: “Você vai vender o posto por bem ou por mal”. O depoimento mostra ainda que a quadrilha falsificou sua assinatura em contratos, deixando-o responsável por dívidas que ainda negocia com bancos. Durante o testemunho, ele apontou nomes dos envolvidos: “Em princípio: Alexandre Leal, que foi pessoa que veio comprar o estabelecimento. E eu sei que, posteriormente, ele repassou para essa pessoa que se chamava Wilson, e chamavam ele de Wilsinho”.

O Ministério Público identificou “Wilsinho” como Wilson Pereira Júnior, que, segundo as investigações, atuava em sociedade com o empresário Flávio Silvério Siqueira, apontado como o principal beneficiário do esquema.

Defesa dos citados

O advogado de Flávio Silvério Siqueira afirmou que seu cliente “não tem contato com ninguém do PCC” e que “o PCC mexe com crime e não com motéis ou qualquer outra empresa”. Já a defesa de Wilson Pereira Júnior disse que ele “não foi formalmente citado no processo” e que “qualquer esclarecimento será prestado às autoridades”. A reportagem informou não ter conseguido contato com os representantes de Alexandre Leal.

Estrutura milionária do esquema

As investigações apontam que a quadrilha chegou a controlar 267 postos de combustível e 60 motéis em São Paulo. Em quatro anos, essas empresas movimentaram cerca de R$ 6 bilhões. Segundo os promotores, os motéis eram usados porque apresentam maior dificuldade de rastrear entradas e saídas de clientes, o que facilita a manipulação das receitas.

Parte do dinheiro era canalizada para fintechs, em especial o BK Bank, que recebia transferências milionárias dos negócios controlados pelo PCC. A defesa da instituição, no entanto, informou que o banco é regulado pelo Banco Central e negou qualquer envolvimento com atividades ilícitas.

Impacto nas vítimas

Enquanto as investigações avançam, empresários tentam recuperar a vida. Um deles desabafou: “Perdi meu ganha-pão. E aí, a gente fica desesperado”. Outro acrescentou: “Eu sabia que ia dançar financeiramente, que não ia ter mais vida para nada. Mas pelo menos eu toco minha vida”.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...