HOME > Brasília

Leia a íntegra do discurso de Barroso no STF: 'o radicalismo é inimigo da verdade'

De acordo com o ministro, "a integridade, a civilidade e a empatia vem antes da ideologia e das escolhas políticas"

Ministro do STF, Luís Roberto Barroso (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

247 - O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso afirmou nesta quinta-feira (9) que o "radicalismo é inimigo da verdade", ao anunciar a sua aposentadoria da Corte, presidida pelo magistrado entre setembro de 2023 e setembro de 2025. 

"A integridade, a civilidade e a empatia vem antes da ideologia e das escolhas políticas. O radicalismo é inimigo da verdade. A gente na vida deve ter cuidado para não se apaixonar pelas próprias razões", acrescentou. 

"Apesar da agressividade e intolerância que se vê aqui e acolá, reafirmo minha fé nas pessoas, no bem, na boa fé, na boa vontade, no respeito ao próximo e na gentileza sempre que possível. Fora desta bancada, continuarei a trabalhar por um tempo de paz e fraternidade".

Veja o discurso na íntegra:

Presidente, queridos amigos e prezados colegas por 12 anos e pouco mais de três meses, ocupei o cargo de ministro deste Supremo Tribunal Federal, tendo sido presidente nos últimos 12 anos. Foram tempos de imensa dedicação à causa da Justiça, da Constituição e da democracia. A vida me proporcionou a benção de servir ao país, retribuindo o muito que recebi sem ter qualquer interesse que não fosse fazer o que é certo, justo e legítimo para termos um país maior e melhor.

Ao longo desse período, enfrentei e superei com discrição, dificuldades e perdas pessoais. Nada disso me afastou da missão que havia assumido perante o país e a consciência de dar o melhor de mim na prestação da Justiça. Na presidência do tribunal e do CNJ, percorri o país do Oiapoque ao Chuí, em contato com os magistrados e cidadãos, procurando aproximar o Judiciário do povo. Conversei com todos, indígenas e produtores rurais, patrões e empregados, situação e oposição. Não discriminei ninguém.

Sinto que, agora, é hora de seguir outros rumos. Nem sequer, os tenho bem definidos, mas não tenho qualquer apego ao poder e gostaria de viver um pouco mais da vida que me resta. Sem a exposição pública, obrigações e exigências do cargo. Com mais espiritualidade, literatura e poesia. Como todos nós sabemos, os sacrifícios e ônus acabam se transferindo para nossos familiares e pessoas queridas, que sequer tem qualquer responsabilidade pela nossa atuação.

Gostaria de me despedir com uma breve reflexão sobre a vida, sobre o Brasil e sobre o Supremo Tribunal Federal. Apesar da agressividade e intolerância que se vê aqui e acolá, reafirmo minha fé nas pessoas, no bem, na boa fé, na boa vontade, no respeito ao próximo e na gentileza sempre que possível. Fora desta bancada, continuarei a trabalhar por um tempo de paz e fraternidade. E reitero: a integridade, a civilidade e a empatia vem antes da ideologia e das escolhas políticas. O radicalismo é inimigo da verdade. A gente na vida deve ter cuidado para não se apaixonar pelas próprias razões.

Apesar das dificuldades que ainda não superamos, como pobreza e desigualdade, reafirmo minha fé no Brasil, o país mais lindo do mundo, da Amazônia ao Pampa, do Cerrado a Mata Atlântica, das praias e montanhas às quedas da água. Parodiando Pablo Neruda: 'Mil vezes tivera que nascer, queria nascer aqui. Mil vezes tivera que morrer, queria morrer aqui'. Aqui, vivem meus filhos amados e gente querida que a vida voltou a me trazer.

Todos nós julgamos aqui causas difíceis, complexas, com interesses múltiplos e cada um procura fazer o melhor. De minha parte, ao longo destes anos, diante das questões mais delicadas, eu as estudei, refleti e me convenci de qual era a coisa certa a fazer. E fiz. Não carrego nenhum arrependimento, nem nunca tive medo de nada. Não falo isso por pretensão ou por arrogância, mas por minha crença mais profunda: a de que o universo protege as pessoas que se movem por bons propósitos.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...