Instituto Brasil-Palestina repudia fala de Jaques Wagner sobre "extermínio do Hamas"
Instituto acusa senador de incitação ao genocídio e exige retratação imediata
247 - O Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) divulgou uma nota pública nesta terça-feira (7) para repudiar declarações feitas pelo senador Jaques Wagner (PT-BA) durante sessão no Senado Federal. O parlamentar afirmou que “o Hamas tem que ser exterminado”, frase que, segundo a entidade, carrega caráter potencialmente genocida e fere compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
De acordo com o documento publicado pelo Ibraspal, a fala do senador não pode ser tratada como opinião isolada. A entidade avalia que a retórica de Wagner reproduz discursos de eliminação coletiva semelhantes aos proferidos pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que defende campanhas militares contra Gaza sob o pretexto de “eliminar o Hamas”.
Comparações internacionais
O texto ressalta que a posição do senador baiano se aproxima da narrativa de Netanyahu ao considerar possível “exterminar” um movimento profundamente enraizado na sociedade palestina. “Na prática, isso significaria exterminar o próprio povo”, afirma a nota.
A entidade recorda ainda que líderes globais têm reconhecido que o Hamas não pode ser eliminado apenas por vias militares. Entre eles, o alto representante da União Europeia, Josep Borrell, que declarou: “Hamas tem de ser erradicado. Mas Hamas é uma ideia, representa uma ideia, e não se pode matar uma ideia".
O ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também foi citado ao afirmar que “enquanto houver ocupação e desesperança, haverá resistência”. Na mesma linha, o ex-secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, destacou que uma vitória militar “não eliminaria o sentimento e a ideologia que alimentam o Hamas”.
O presidente da França, Emmanuel Macron, reforçou: “Não se destrói um movimento como o Hamas com bombas.” Já o intelectual Noam Chomsky enfatizou: “Você pode matar combatentes, mas não consegue matar uma ideia. Enquanto existir ocupação e apartheid, haverá resistência".
Aspectos jurídicos e denúncia de genocídio
O Ibraspal lembra que o Brasil é signatário da Convenção da ONU de 1948 para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio. O documento estabelece que incitar, defender ou normalizar a eliminação de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso pode configurar crime internacional.
Para o instituto, as palavras de Wagner ecoam “a lógica genocida” denunciada em tribunais como a Corte Internacional de Justiça e a Corte Penal Internacional. A nota destaca que nenhum mandato parlamentar confere imunidade moral ou política para declarações que legitimem extermínios.
Exigências do Instituto
O Ibraspal elencou quatro medidas que considera necessárias diante do episódio:
- Retratação imediata e pública do senador Jaques Wagner.
- Pedido formal de desculpas às comunidades palestinas, à sociedade brasileira e internacional.
- Abertura de procedimentos éticos e disciplinares no Senado Federal.
- Que declarações semelhantes sejam tratadas como incitação ao genocídio, com responsabilização junto aos órgãos competentes.
A manifestação do Ibraspal conclui afirmando que discursos de ódio institucionalizados já abriram caminho para “os maiores crimes da história contemporânea” e que palavras carregam peso jurídico e político inegável.